Desde janeiro, a Polícia Civil de Goiás concluiu dez inquéritos com denúncias de exploração sexual de meninas descendentes de escravos nascidas em comunidades na região da Chapada dos Veadeiros
Denúncias de exploração sexual de crianças na comunidade quilombola dos Kalungas levaram, na segunda-feira (20), deputados da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara ao município de Cavalcante (GO) para ouvir a população e autoridades locais.
Na reunião, moradores de Cavalcante reivindicaram melhores estruturas para a polícia e o Ministério Público e pediram punição aos criminosos. O encontro contou também com a presença de representantes da prefeitura, da Justiça, delegados e deputados estaduais.
A líder comunitária Kalunga Dalila Reis ressaltou que principalmente as meninas acabam vulneráveis ao trabalho infantil e a abusos sexuais. De acordo com a quilombola, casos como esses acontecem há anos, inclusive dentro dos quilombos, mas as pessoas se sentem inibidas em denunciar.
Com mais de oito mil pessoas, a área Kalunga, na região da Chapada dos Veadeiros (GO), é o maior território quilombola já identificado do Brasil. Depois que completam o 5º ano do ensino fundamental, as crianças Kalungas são entregues pelos pais a famílias na cidade para concluir os estudos e ter acesso a outras políticas públicas.
“Essas crianças se sentem acoitadas dentro da casa da família. Muitas fogem e acabam indo para a rua. E aí a violência é consumada. Se a comunidade tivesse uma estrutura educacional melhor, muitas famílias estavam livres disso”, disse Dalila Reis.
Vereador investigado
Dez inquéritos sobre exploração sexual na região foram concluídos pela Polícia Civil de Goiás desde janeiro. O vereador Jorge Chaim (PSD), de 62 anos, é um dos investigados por estupro de uma criança Kalunga de 12 anos.
De acordo com a polícia, dois pedidos de prisão preventiva do vereador foram feitos, mas negados pelo Tribunal de Justiça sob a alegação de que não há provas suficientes.
Ameaças
Ameaças ao Conselho Tutelar de Cavalcante também foram denunciadas durante a audiência com os deputados. Conselheiras relataram que a sala onde ficam os relatórios foi arrombada após divulgação dos casos pela imprensa e que parte dos documentos foi roubada. O presidente da Comissão de Direitos Humanos, deputado Paulo Pimenta (PT-RS), declarou que intimidações ao conselho serão consideradas ameaças ao colegiado da Câmara.
“Nós vamos atuar nesse acompanhamento para que, efetivamente, seja punida qualquer ameaça a qualquer pessoa que trabalhe no combate à exploração sexual de crianças”, destacou.
O parlamentar disse ainda que a comissão fará novas visitas ao município para acompanhar o desdobramento dos casos e que irá à comunidade Kalunga para averiguar outras denúncias.
Edição – Marcelo Oliveira