Neste sábado (21/02), as mais de três mil famílias do acampamento Dom Tomás Balduíno realizaram um ato político em defesa da reforma agrária e da desapropriação da Agropecuária Santa Mônica, em Corumbá (GO), onde a ocupação está localizada.
O ato contou com a presença de vários setores da sociedade que estão integrados ao Comitê em solidariedade ao acampamento, bem como professores, estudantes e servidores técnicos da UnB e UFG. Também participaram, o presidente da Comissão Episcopal Pastoral para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da CNBB, Dom Guillherme Werlang; e o integrante da direção nacional do MST, João Pedro Stédile.
Desde a ocupação da área em outubro de 2014, o caso vem sofrendo uma enorme pressão política, o que possibilitou abusivas decisões judiciais pelo juiz de Corumbá.
Para João Pedro, o judiciário da comarca local não tem viabilidade de julgar o despejo das famílias acampadas e afirmou a necessidade de se fazer cumprir o que consta na legislação brasileira referente a função social da terra.
“Queremos apenas que se aplique o que está Constituição. O INCRA e MDA tem que fazer a vistoria da área para saber se esta cumpre ou não a função social e também a cadeia dominial do imóvel. E também cadastrar as famílias em seu sistema. Se for necessário organizaremos ocupações em outros estados em solidariedade aos companheiros e companheiras e não sairemos enquanto o governo não solucionar a questão”, afirmou.
Para Stedile, o Governador do estado de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), tem que ser responsável com as famílias acampadas e lembrou o Massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido no Pará em 1997. “Não seja mais um tucano com as mãos sujas de sangue, pois dessa terra o povo não vai sair sem lutar. A decisão de conquistar a terra é do povo. E ele deve resistir e lutar para garanti-la”.
A irmã de Tomás, Sueli Balduíno, que também esteve presente no ato, salientou que no Brasil “as terras estão nas mãos dos políticos latifundiários, não é do pequeno é do grande e isso tem que ser revertido”.
A professora da UnB, Maria Elisa Guaraná, ao prestar solidariedade ao acampamento, ressaltou a importância da universidade, enquanto espaço, público no contexto da luta pela terra no país.
“Não existe universidade pública se não houver compromisso com a sociedade. Precisamos lutar para que de fato, a universidade expresse o apoio a esta luta digna. É fundamental que a luta pela reforma agrária e pela universidade pública seja única. A terra deve ser para quem nela trabalha e a universidade deve ser ocupada também, e certamente, não pela perspectiva da propriedade privada”, esclareceu.
Alegria e Resistência
Junto ao ato político, foi realizada a festa da colheita do milho com a 1° pamonhada, fruto da produção do acampamento que, desde a ocupação em outubro de 2014, cultiva a esperança da conquista da terra.
De acordo José Valdir Misnerovicz, da coordenação nacional do MST, o acampamento é um marco do processo histórico da luta pela terra no Goiás. “É o maior latifúndio do estado já ocupado e umas das maiores ocupações nacionais organizadas pelo MST. Portanto, lutar é cuidar dessa terra para os trabalhadores e trabalhadoras sem terra que aqui estão”, afirmou.
Misnerovicz comentou também que a decisão de organizar o acampamento é preponderante para como fator de permanência das famílias na área para produzirem alimentos saudáveis. “Quem planta tem o direito de colher. Nós temos o compromisso de lutar até o último pingo de sangue e suor para permanecer na terra cultivando alimentos saudáveis e recuperar esse território com plantio de mudas nativas”, declarou.
Também foi realizada uma celebração ecumênica no local e os artistas Pedro Munhoz e Pereira da Viola trouxeram animaram as famílias acampadas com versos cantantes e a utopia de um novo amanhecer.
Fotos: Mídia Ninja