GO – Procurador da República será homenageado amanhã, 12, por combate a crimes cometidos durante a ditadura militar

Procurador Wilson Rocha Assis durante Audiência Pública sobre hidrelétricas no Pantanal.
Procurador Wilson Rocha Assis durante Audiência Pública sobre hidrelétricas no Pantanal

Wilson Rocha Assis denunciou militar reformado por crime praticado durante o regime de exceção

MPF GO

O procurador da República Wilson Rocha Assis será homenageado amanhã, 12 de dezembro, às 9h, pela Comissão de Direitos Humanos, Cidadania e Legislação Participativa da Assembleia Legislativa de Goiás. A sessão solene será em comemoração à Declaração Universal de Direitos Humanos, com o tema “66 anos da Declaração de Direitos Humanos –   “Direitos Humanos não se pede de joelhos, exige-se de pé”, e ocorrerá no Plenário Getulino Artiaga da Assembleia.

Entenda

Em dezembro do ano passado, o Ministério Público Federal em Goiás (MPF/GO) denunciou Epaminondas Nascimentos, delegado de polícia no município de Rio Verde/GO em 1973, por ordenar a ocultação dos corpos dos jovens Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck Machado, membros do então “Movimento de Libertação Popular”, grupo armado de enfrentamento à ditadura inaugurada com o Golpe Militar de 1964. O casal foi morto por agentes do antigo regime em uma fazenda localizada entre os municípios goianos de Rio Verde e Jataí. Documentos colhidos durante a investigação e testemunhas ouvidas pelo MPF/GO e pela Comissão Nacional da Verdade corroboraram que a ordem para a ocultação dos cadáveres partiu de Epaminondas Nascimento (veja notícia do MPF, de 20/12/2013, abaixo).

Evento: Sessão solene em comemoração à Declaração Universal de Direitos Humanos
Data: 12/12/2014
Hora: 9h
Local: Plenário Getulino Artiaga – Assembleia Legislativa de Goiás

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MPF denuncia militar reformado por crime praticado durante a Ditadura Militar

Para procurador da República, o crime é permanente e, apesar do tempo, a ação penal é viável

MPF GO – 20/12/2013

Era 17 de maio de 1973. Agentes da Ditadura Militar invadem uma fazenda localizada entre os municípios goianos de Rio Verde e Jataí. Os jovens Maria Augusta Thomaz e Márcio Beck Machado são mortos. Epaminondas Nascimentos, então delegado de polícia em Rio Verde, comparece ao local após o homicídio, e determina a ocultação dos cadáveres na própria fazenda. Pelo crime, após 40 anos do episódio, o Ministério Público Federal em Goiás move denúncia contra o militar reformado.

Entenda

Maria Augusta e Márcio Beck eram membros do Movimento de Libertação Popular, grupo armado de enfrentamento à Ditadura, inaugurada com o Golpe Militar de 1964. Os jovens haviam sido presos durante o 30º Congresso da União Nacional de Estudantes (UNE), em Ibiúna-SP, em 1968, e realizaram treinamento militar em Cuba no ano seguinte, retornando ao Brasil em 1971. Em 4 de maio de 1973, fugindo da repressão, mudaram-se para a Fazenda Rio Doce, no interior de Goiás. Após a prisão e tortura de dois militantes no DOI-CODI de São Paulo, o casal foi descoberto e assassinado dias depois de sua chegada na região.

Na época, o então delegado de polícia de Rio Verde, Epaminondas Pereira do Nascimento, compareceu ao local, determinando que o proprietário da fazenda e seus trabalhadores enterrassem os corpos dos jovens. Anos depois, em 31 de julho de 1980, quando iniciava a redemocratização do país, agentes da repressão compareceram à fazenda e ocultaram novamente os cadáveres, levando os restos mortais dos jovens para lugar incerto e não sabido.

As investigações iniciadas na Procuradoria da República no município de Rio Verde no início de 2013 buscou identificar a fazenda onde ocorreram os fatos, bem como duas testemunhas oculares dos crimes ocorridos no ano de 1973. Documentos colhidos durante a investigação e testemunhas ouvidas pelo Ministério Público Federal e pela Comissão Nacional da Verdade corroboraram que a ordem para a ocultação dos cadáveres partiu de Epaminondas Nascimento, razão pela qual o capitão reformado da PM goiana é denunciado, agora, em ação do Ministério Público Federal, pelo crime previsto no artigo 211, do Código Penal (ocultação de cadáver). Ouvido pelo Ministério Público Federal, o denunciado negou os fatos imputados na peça acusatória.

Na história

O caso havia sido arquivado em 1986, por entender que o crime encontrava-se prescrito. Consultados, a 2ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério Público Federal e o Grupo de Trabalho Justiça de Transição, vinculado à 2ª CCR, entenderam que o arquivamento ocorrido em 1986 não alcança os atos consumativos posteriores à data do arquivamento, uma vez que o delito de ocultação de cadáver, previsto no artigo 211, do Código Penal, é crime permanente.  Ou seja, considerando que os cadáveres nunca foram localizados, o crime, iniciado na época da Ditadura Militar, está ocorrendo ainda hoje, razão pela qual é possível o oferecimento da denúncia, protocolizada em 19 de dezembro de 2013, perante a Subseção da Justiça Federal em Rio Verde.

De acordo com o procurador da República Wilson Rocha Assis, a denúncia proposta permitirá à sociedade e ao Poder Judiciário aprofundarem na discussão sobre a forma pela qual a sociedade brasileira deve se relacionar com o seu passado ditatorial.

Para o procurador da República, “a responsabilização penal dos agentes que praticaram crimes durante o regime ditatorial é um imperativo de justiça exigido pela Constituição da República de 1988, bem como por tratados internacionais subscritos pelo Brasil. Revisitando seu passado e punindo os agentes responsáveis por graves violações aos direitos humanos, o Brasil cumprirá a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, seguindo o bom exemplo de outros países do Cone Sul”.

Clique aqui e confira a denúncia.

Ministério Público Federal em Goiás
Assessoria de Comunicação

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