Cimi Regional Mato Grosso do Sul
Cansados da exploração da terra tradicional reivindicada, o tekoha Tey Juçu, pela usina sucroalcooleira Nova América, um grupo Kaiowá composto por aproximadamente 300 pessoas, mais de 100 famílias, retomou na madrugada de domingo, dia 7, mais uma pequena parte deste território indígena no Mato Grosso do Sul. A derrubada gradativa do que restou de mata no local foi o estopim que levou os Kaiowá a tomar a decisão de retomar a área. Até então estes Kaiowá se encontravam na aldeia Tey Kue, localizada junto ao município de Caarapó.
A paralisação das demarcações é sem dúvida um jogo lucrativo para as empresas que há décadas exploram de forma exaustiva os territórios indígenas. No Mato Grosso do Sul, enquanto os procedimentos demarcatórios seguem parados ou sendo eternamente analisados, os poucos recursos naturais que sobreviveram há anos de esbulho vão sumindo no horizonte. Pouco a pouco, a céu aberto e sem nenhuma vergonha, o mato e os vales sagrados dos territórios ancestralmente ocupados pelos povos originários vão se transformando em monótonos e danosos campos de monocultura e de devastação. Este cenário é comumente atrelado ao país que produz e se desenvolve, enquanto as áreas que sobraram de mata, no geral ocupadas pelos indígenas, são retratadas como símbolos do atraso.
Os indígenas há muito vêm denunciando que a usina Nova América, apesar de estar fora do território indígena, utilizava a área em estudo para estender sua plantação de cana de açúcar. Por isso, de maneira desleal, derruba as árvores e os recursos naturais lá existentes. Com nome “Tey Juçu” (aquilo que sempre foi), a área pertence à totalidade da Tekoha Guaçu (grande território) que se estende para além da aldeia de Tey Kue e historicamente foi e ainda é habitado por diversos grupos Guarani e Kaiowá. Hoje os fazendeiros a chamam de “fazenda toca do jacaré”.
A presença da usina nesta área é considerada uma afronta pelos indígenas que até então esperavam pacificamente pela continuidade dos procedimentos de demarcação. Os Kaiowá denunciam que o relatório já foi finalizado pelo antropólogo responsável e se encontra em fase de finalização na Coordenação Geral de Identificação e Delimitação (Cegid), da FUNAI. Porém, os estudos se encontram paralisados exclusivamente por decisão política do governo federal.
Os indígenas decidiram ocupar o território durante a madrugada, evitando assim qualquer possibilidade de conflito. Porém, alegações dos fazendeiros locais de que “os paraguaios estariam chegando para limpar a bagunça” e uma tentativa de atropelamento de um indígena numa motocicleta por uma caminhonete Hilux gerou um clima de indignação e revolta no local. Por sorte o indígena conseguiu pular da motocicleta e passa bem.
Os Kaiowá reiteram que não deixarão o local e que não assistirão de braços cruzados sua terra ancestral ser usurpada pela usina. Desta forma decidiram esperar pela finalização dos estudos sobre o território de Tey Juçu. A chegada de mais de 600 indígenas oriundos historicamente deste território é esperada pelo grupo Kaiowá, nos próximos dias. O grupo pede que seja providenciada a imediata proteção da comunidade por parte dos órgãos responsáveis; fazendeiros e capangas seguem fazendo ameaças.