Poluição afeta a pesca no Rio São Francisco

Surubim perto da cidade de São Francisco: cena comum, dizem pescadores

Pescadores do Rio São Francisco ou afluentes denunciam que poluição afeta atividade

Mateus Parreiras e Luiz Ribeiro

Manga, Pirapora e São Francisco – Do seu casebre baixo e de madeira na ilha rodeada pelas águas rápidas do Rio São Francisco, os pescadores Valeriano Nunes, de 56 anos, Adão Dias, de 54, e Luiz Carlos Gonçalves, de 36, observam mais um grande surubim descer boiando a correnteza. “Vinte quilos, no mínimo”, arriscam. Num barco, perto do peixe, o cheiro forte e o inchaço demonstram que está em estado de decomposição, indicando que não morreu por ali. “Há uns cinco anos isso ficou comum. Vemos descer até 10 surubins mortos”, reclama Adão, morador do município de São Francisco, no Norte de Minas “Pescar um grande desses é difícil. A poluição mata antes de a gente conseguir fisgar”, completa. 

A diminuição dos cardumes no Rio São Francisco é uma das questões enfrentadas na bacia. Pescadores sustentam que a morte dos peixes vem se repetindo e relacionam o problema à poluição das águas. “Já vi surubim de 20 quilos morto no rio. E os peixes continuam morrendo”, diz o pescador João Augusto Rodrigues dos Santos, de 58, de Pirapora, também no Norte do estado. “O rio já teve muito peixe. Com o passar dos anos, diminuíram por causa da poluição”, acredita Wilson Pereira da Silva, outro pescador da cidade. Em Pirapora, a reportagem do EM localizou pelo menos duas manilhas que lançam poluição diretamente no leito do Rio São Francisco, situadas próximo ao distrito industrial do município.

O biólogo Patrick Valim, que trabalha para o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Pirapora, sustenta que, pela legislação, quando recebem ou renovam as licenças ambientais, as indústrias da cidade se comprometem a tratar seus resíduos. “As indústrias só podem jogar efluentes no São Francisco se fizerem o devido tratamento. Elas são fiscalizadas pelos órgãos ambientais”, diz Valim.

Em Manga, pescadores também denunciam problemas. “Acho que as futuras gerações não vão poder ver peixe nesse rio. A cada ano a situação piora”, diz Zezinho Lourenço de Lima, residente na ilha do Pau Preto. Último município mineiro banhado pelo Rio São Francisco, Manga acaba recebendo o que já foi descarregado no Velho Chico ao longo de seu curso por Minas. Trabalhadores da região, como Leonardo Novais, dizem que esgotos da cidade, que incluem rejeitos de atividades de comércio, são lançados no rio por meio da rede pluvial.

Sem registros oficiais Apesar dos relatos de pescadores sobre a mortandade de peixes ao longo do Rio São Francisco, a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) afirma não registrar denúncias de morte de peixes no Rio São Francisco desde 2011 – embora reconheça que a mortandade ficou mais frequente a partir de 2005. A Cemig, no entanto, que opera a barragem de Três Marias, admite que espécimes morreram de causas ainda não determinadas no curso do rio, depois do barramento, entre os dias 18 e 23 de janeiro deste ano.

“Equipes de limnólogos (especialistas que estudam reservatórios) da Cemig estão realizando amostragens físico-químicas para confirmar o evento e o resultado deve fornecer evidências do que está acontecendo” informou a companhia energética por meio de nota. A hipótese levantada pela Cemig, no entanto, é de que os animais aquáticos tenham morrido “em consequência de a água que passa pelas turbinas e sai no rio abaixo da barragem apresentar baixas concentrações de oxigênio dissolvido”, afirma a nota da empresa.

A Semad afirma que vem agindo no monitoramento das possíveis fontes poluidoras ao longo do rio e que para isso foi criada uma “rede de cooperação interinstitucional em pesquisas e ações relacionadas à mortandade de peixes e ao monitoramento ambiental na bacia do Alto e Médio São Francisco.” O grupo é formado por estudiosos, pesquisadores, representantes do estado, Ministério Público e de outros estados, além da Prefeitura de Três Marias.

Com respeito à Votorantim Metais, a pasta informou que a empresa citada “já foi multada e se adequou”, mas indicou que há “outros fatores que também causam ou contribuem (para a mortandade dos peixes), como agrotóxicos, chuva, inversão térmica no reservatório, entre outros”.

Enquanto isso…

…Aterro preocupa
em Lagoa da Prata

De um lado, a cidade de Lagoa da Prata, uma das que margeiam o Rio São Francisco, no Centro-Oeste mineiro, exibe um moderno aterro sanitário que é modelo de preservação para as cidades vizinhas. Mas, ao lado dessa estrutura, líquidos espessos e espumas verdes vazam de um monte coberto de grama a poucos metros de estradas e de mananciais que abastecem o Rio São Francisco. O chorume, nome dado ao líquido concentrado que mina do lixo compactado, pode tornar impuras águas subterrâneas e até contribuir para a suspensão do abastecimento de mananciais. A situação foi flagrada no antigo aterro controlado, que encerrou as atividades em 2008, após informações do Instituto Estadual de Florestas (IEF) e da Polícia Militar de Meio Ambiente (PMMA). De acordo com a secretaria de Meio Ambiente de Lagoa da Prata, o problema não era de conhecimento da prefeitura e será averiguado.

http://www.em.com.br/app/noticia/gerais/2013/02/18/interna_gerais,351099/poluicao-afeta-a-pesca-no-rio-sao-francisco.shtml#.USITnOlsQUM.gmail

Enviada por José Carlos para Combate ao Racismo Ambiental.

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