O Estado tem responsabilidade sobre o assassinato do casal de extrativistas José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva, ocorrido em 24/5, no Pará. A afirmação é do representante da coordenação nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Dirceu Fumagalli.
Segundo ele, o nome do casal estava na relação de pessoas ameaçadas de morte entregue, em 2009, ao Ministério da Justiça. “Tanto a CPT regional [do Pará] quanto a CPT nacional já tinham feito essa denúncia. De fato teve essa ocorrência. Todo assassinato por si só é algo abominável, mas esse, na atual conjuntura, é emblemático.”
Para Fumagali, a morte dos extrativistas explicita como a questão das florestas está sendo tratada no país. “Os madeireiros cumprem um papel sujo, eles avançam pelas florestas, até para limpar as áreas para entregar para os pecuaristas. Há uma sintonia de interesses que não são os da floresta, muito menos daqueles que tentam conviver na floresta.”
Uma estimativa da CPT aponta que, entre 2001 e 2010, 377 pessoas foram assassinadas devido aos conflitos agrários no país. Os dados da Ouvidoria Agrária Nacional, do Ministério do Desenvolvimento Agrário, são mais específicos. No mesmo período, 58 pessoas foram assassinadas no Pará em confrontos por terra e outros 62 casos estão sob investigação no estado.
De acordo com o representante da pastoral, os casos de assassinato continuam ocorrendo frequentemente. “[O número de mortes] continua crescente porque não foi feita nenhuma alteração na estrutura fundiária nacional. A concentração da terra continua existindo.”
João Cláudio e Maria do Espírito Santo foram mortos a tiros ontem (24) em uma estrada vicinal que leva ao Projeto de Assentamento Agroextrativista Praialta-Piranheira, na comunidade de Maçaranduba 2, a 45 quilômetros do município de Nova Ipixuna, sudeste do Pará. Há suspeitas de que o crime foi cometido por encomenda.
Dia 24/5, a presidenta Dilma Rousseff determinou ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que a Polícia Federal (PF) seja acionada para investigar o assassinato dos dois líderes, ligados ao Conselho Nacional dos Seringueiros no município de Nova Ipixuna. Além da PF, o Ministério Público Federal e a Polícia Militar do Pará também estão investigando a morte do casal.
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