Thiago Valentim*
Nos 13 e 14 de maio de 2011, no Centro de Pastoral Maria Mãe da Igreja – Fortaleza, 27 pessoas, vindas de oito dioceses do Ceará, membros de Organismos ligados à Igreja Católica, Pastorais e Movimentos Sociais, estiveram reunidas para discutirem sobre a conjuntura política atual e articularem o Grito dos/as Excluídos/as nas dioceses.
Em sua 17ª edição, o Grito tem por tema: Pela Vida grita a TERRA… Por direitos todos nós! As catástrofes ambientais, conseqüência do desequilíbrio causado pelo modelo de produção vigente do sistema capitalista, a miséria e a pobreza, a concentração de riquezas e exploração irresponsável dos recursos naturais, são gritos por cuidado, justiça e dignidade que ecoam mundo afora.
O Grito dos/as Excluídos/as pretende levar às ruas o grito da Mãe Terra sofrida com tantos projetos de morte, os quais, escondidos atrás das máscaras do desenvolvimento, destroem a natureza e colocam em risco toda espécie de vida sobre o Planeta. Conseqüência também desse modelo de desenvolvimento capitalista, que visa tão somente o lucro desenfreado de alguns poucos, é a negação dos direitos básicos da população: saúde, educação, moradia, acesso à Terra, à Água, lazer, cultura, emprego, soberania alimentar… O governo anuncia o ascenso de 35 milhões de pessoas à classe média, porém, isso não significa que os direitos básicos destes e dos que continuam a linha de pobreza e miséria tenham sido garantidos.
O aumento do poder aquisitivo não significa necessariamente garantia de direitos básicos. Segundo dados do último Censo do IBGE, a classe média (domicílios com renda per capita de 1 a 5 salários) não passa de 34, 2% da população (Fonte: Brasil de Fato, nº 427). Os outros 66% estão na linha de miséria e pobreza.
Papel importante no fortalecimento do sistema capitalista é a mídia hegemônica, dominada pelas grandes corporações. Se o capitalismo afirma que é preciso produzir sempre mais, conta com o apoio da mídia, que incute nas pessoas, principalmente nas crianças e jovens, o desejo do consumo desenfreado, criando diariamente, através das propagandas mentirosas e enfeitadas, ilusões de necessidades.
Acontece que a produção está para o aumento dos lucros e não para as necessidades básicas das populações. Nunca se produziu tanto e, comparativamente, tivemos tantos pobres.
Alguns questionamentos nortearam a discussão no encontro em torno do tema: Ainda temos excluídos/as? Onde eles/as estão? Eles/as reconhecem que são excluídos/as? E nós, agentes de pastorais e militantes de movimentos sociais, também nos reconhecemos como excluídos/as? Vimos que os/as excluídos/as continuam existindo e o Grito continua com sua razão de existir. Nossa missão é identificar as realidades de exclusão, ter consciência delas e transformá-las. Ser excluído/a é uma realidade que ninguém deseja ser, mas é real, não podemos negá-la. Esse é o primeiro passo na luta pela inclusão, contra todo tipo de exclusão. Quem é excluído/a e nega esta condição, não assume a luta pela transformação.
No Ceará, a discussão está girando em torno dos grandes projetos do agrohidronegócio, das obras de infraestrutura e da Copa do Mundo. Os/as excluídos/as são também massacrados por estes grandes projetos do capital nacional e internacional. As obras são planejadas e concretizadas a toque de caixa, empurradas de goela abaixo.
As comunidades atingidas não participam do processo de discussão sobre a viabilidade social e ambiental destas obras e, ao final, precisam ser remanejadas de seus espaços ancestrais ou então continuam vivendo nestes espaços, mas sofrendo os impactos diretos destes empreendimentos.
O cenário político também está em crise. As políticas públicas de atendimento aos pobres e de cuidado com o meio ambiente ainda são muito falhas ou inexistem em alguns âmbitos. Alguns projetos de lei de parlamentares até vão na contramão da preservação ambiental, como o que propõe as mudanças no Código Florestal. As obras da Copa, por exemplo, irão remanejar, para áreas de alto risco, muitas comunidades atingidas; outras serão escondidas pelos muros da vergonha e não serão, sequer, ouvidas em suas reivindicações. Esta novela se repete há muitos anos, a cada vez que surge um novo grande empreendimento. Sob o discurso que é uma obra de interesse social os governos e empresas seguem alagando seus territórios de injustiça e exploração, enquanto os pobres têm seus direitos violados e seus espaços usurpados.
São tantos gritos que ecoam pelo mundo. A Mãe Terra “geme como em dores de parto” (Rm 8,22). O Grito pretende ser um momento de fortalecimento das lutas populares, bem como de dar visibilidade aos processos alternativos que estão sendo construídos a partir das bases, que apontam para uma outra sociedade possível, mais justa e igualitária.
O Grito dos/as Excluídos/as não é um evento isolado, ele vai para além dos protestos do dia 07 de setembro. Faz parte de um processo de mobilização e lutas pelos direitos, bem como de construções coletivas em torno de uma outra maneira de ver a Terra e de usufruir de suas riquezas, a partir dos princípios do respeito, da convivência e da sustentabilidade.
Por todo o Brasil, os gritos se unirão num só, e tecerão a colcha do projeto popular. Desde já, todas as comunidades são convidadas e preparar o Grito com bastante entusiasmo, ao mesmo tempo em que fortalecem as lutas locais em favor da Mãe Terra, Terra de Deus e nossa, e dos direitos dos pobres, filhos/as da Terra, pobres de Deus.
*Natural de Madalena – CE, formado em Filosofia e Teologia, Educador Popular e atualmente membro da coordenação colegiada da Comissão Pastoral da Terra (CPT) Ceará
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=56757