Índio terena conclui curso de direito em MS e planeja voos mais altos

Luiz Henrique Eloy Amado, de 23 anos, é o orgulho da comunidade onde nasceu. O índio terena, nascido na aldeia Ipegue em Taunay, distrito de Aquidauana, a 143 quilômetros de Campo Grande se forma em Direito este ano. Na sexta-feira (20) passou pelo último degrau antes de receber o diploma de bacharel em direito pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).

E o tema para dissertação teve tudo a ver com a realidade dele, e de cerca de 74 mil indígenas que vivem em Mato Grosso do Sul. A demarcação de terras. O litígio que envolve fazendeiros e índios em vários municípios do estado está gerando intranquilidade no campo. Já são dezenas de áreas reclamadas pelos índios, algumas já ocupadas, que tramitam anos na Justiça sem data para conclusão.

Para chegar até aqui, Luiz Henrique conta que não foi fácil. Ele cursou o ensino fundamental na aldeia e conta que a qualidade da educação não era das melhores. “O ensino da aldeia é similar ao da educação pública do Brasil, porém lá é mais precário. Na minha época só havia um professor indígena”, afirma Luiz.

Mas o sonho de um dia se tornar advogado para defender a comunidade falou mais alto. Sem condições para custear o curso em uma universidade privada, ganhou a bolsa do Programa Unidade para Todos (Prouni).

Além de se destacar como acadêmico, acumulou um extenso currículo em pesquisas e artigos publicados. Ao todo são 7 projetos de pesquisa e 12 textos publicados. Ganhou, ainda, uma bolsa de iniciação científica pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Mesmo com a graduação em Direito, Luiz Henrique não pensa em parar. Já está com uma especialização em Direito Público em andamento e se prepara para disputar um vaga no concorrido programa de mestrado em direitos humanos da Universidade de São Paulo (USP).

Enfrentar a questão das demarcações de terras indígenas no estado é o próximo desafio do Luiz Henrique já como advogado. Mais ele quer mais. “Meu sonho é ser Procurador da República, para poder atuar nas causas das comunidades indígenas”, comenta o índio.

Situação dos acadêmicos indígenas em MS

Atualmente cerca de 600 indígenas estão matriculados nas universidades e faculdades de Mato Grosso do Sul. Mas para o historiador e professor Antônio Brand, o principal problema enfrentado pelos acadêmicos indígenas ainda está longe de uma solução. Ele explica que a maioria vive nas aldeias. São poucos os que conseguem estudar e, ao mesmo tempo, arcar com as despesas como luz, transporte, alimentação e livros.

Mesmo não tendo números atualizados e oficiais sobre as desistências, Brand afirma que a situação hoje está bem melhor em relação ao passado. “Eles podem demorar mais para se formar, mas muitos já conseguem concluir o curso”.

Ainda em relação a formação acadêmica dos indígenas, o professor Brand defende a adoção de uma política pública para inserir o indígena graduado no contexto da sua realidade. “As aldeias precisam, e muito, do conhecimento e do apoio desses indígenas. Por isso seria importante criar mecanismos para que, depois de formado, eles pudessem retornar às aldeias para ajudar a comunidade”, afirmou Brand.