Por Walter Passos, Historiador,Panafricanista, Afrocentrista e Teólogo. Pseudônimo: Kefing Foluke.
Recordo-me da minha infância, quando crianças pediam a benção a uma idosa da cor de ébano que calmamente andava na rua onde morava, sempre no mesmo horário:
– Que Deus te abençoe, meu netinho.
Era uma zeladora de Umbanda. A Nós não nos interessa sua religião, porque ela demonstrava carinho e amorosidade com todos na mesma medida. Também pedíamos a benção aos padres capuchinhos, por interesse de ganhar laranja, uma benção, uma laranja. Até hoje não sei como aqueles homens idosos possuíam tantas laranjas. Era um pedido de benção interesseira.
Cresci indo a diversas sessões de umbanda, acompanhando o meu irmão que era fotografo na época, e quando já adolescente para jogar capoeira, antes das chamadas giras. Foi um bom tempo e muito aprendizado da diversidade religiosa brasileira. Sempre admirei a umbanda pelas suas propagandas de caridade e ficava impressionado por um dia ter visto um hospital umbandista no bairro de Mesquita – RJ.
Certa feita, ocorreu um fato interessante. Meu pai fora um comunista convicto, admirador da Rússia, de Carlos Prestes e do Partidão. Gostava de nenhuma religião, todavia solicitou a minha mãe que confeitasse um bolo para a festa de homenagem a São Jorge, em um terreiro de Umbanda, atendendo a um pedido de um zelador que era colega dele no Cais do Porto. Meu pai se orgulhava de ver os lindos bolos confeitados pela minha mãe e alegremente construía as suas armações. O bolo para São Jorge foi um dos mais belos que eu vi na vida. Mas, senti que a minha mãe o fez e o confeitou sem mostrar a mesma alegria como naqueles que fazia gratuitamente para as festas na Igreja Presbiteriana de Queimados -RJ, aniversários, batizados e de casamentos de jovens que ela gostava. (mais…)