Moradores não podem plantar nem captar água no solo contaminado. Ministério Público Federal quer estudo de riscos para a saúde
Raphael Gomide, iG Rio de Janeiro
O solo está contaminado, e os moradores não podem plantar para consumo nem fazer captação de água subterrânea no local.
“De jeito nenhum, não pode plantar nada nem comer nada do que se planta, porque o solo é contaminado. Acho que é prejudicial à saúde, mas ninguém nunca explica direito”, disse ao iG a moradora Luciana Cristina do Amparo, 36.
A Procuradoria quer a remoção do depósito, vizinho ao bairro e hoje lacrado. De acordo com o MPF, a CSN tinha licença apenas temporária da Feema (hoje Inea, Instituto Estadual do Ambiente) para manter naquele local células de resíduos perigosos (em uma escala com três níveis de risco, este é o mais alto). Os resíduos deveriam ser removidos posteriormente.
“Trata-se de uma região de nascentes. O material percolou (se espalhou por dentro do solo), atingiu o lençol freático e afetou a área. A CSN precisa apresentar projeto de recuperação total da área e fazer o monitoramento de poços”, disse o assessor técnico do Inea Sérgio Alves.
“A CSN ainda doou e autorizou a construção de casas na área sob risco de contaminação. As pessoas não podem conviver com células de resíduos ao lado. A CSN não cumpriu sua licença provisória, que se tornou ‘definitiva’ e ainda doou o terreno onde ocorreu o vazamento, sabendo que seria dada alguma destinação para a área. Ninguém ia ganhar o terreno para contemplá-lo”, afirmou o procurador da República Rodrigo Lines.
O MPF quer que a CSN investigue as possíveis consequências. “É preciso fazer uma análise de risco, investigar o grau de contaminação e propor medidas de intervenção e remediação. Ainda não há estudos conclusivos, e os efeitos das substâncias são desconhecidos. Sondagens e coletas são feitas em postos de monitoramento instalados. A CSN não concorda com a remoção das células, a não ser que fique comprovado que ainda há vazamento”, afirmou Lines, para quem a CSN não é transparente em relação à questão.
Após o acidente, as células foram lacradas. Hoje, um muro separa o condomínio 225, com 58 casas, do terreno com o depósito. Na área mais diretamente atingida pela contaminação, o lote 225 – do outro lado do muro –, quatro casas foram compradas e demolidas pela CSN. Deram lugar a uma quadra poliesportiva, onde quinta-feira (28) três meninos jogavam bola. O acesso às células é feito por um pátio de escória de alto-forno, também vizinho ao condomínio. Das ruas do Volta Grande 4, é possível ver uma montanha de escória com cerca de 25 metros de altura, perto do muro que divide os terrenos.
Em conversas com o iG, moradores demonstram apreensão. “Ninguém sabe, na verdade, não divulgam. A palavra deles poderia tranqüilizar. A máquina furou e contaminou, descendo quatro ruas. Cercaram o poço e neutralizaram com cal. Tenho medo”, disse um morador que se identificou apenas como Fernando.
“Fico preocupada com saúde. Meu filho de 2 anos e cinco meses tem problemas alérgicos, pneumonia, doença pulmonar obstrutiva crônica, infecção na garganta todo mês e me pergunto se tem relação com essa contaminação. A casa tem infiltração e estamos consertando, mas se continuar com os problemas, é isso e vou me mudar.”
Nem todos no 225 pensam da mesma maneira. Integrante da comissão de moradores do bloco 225, que negocia com a CSN, Andressa Oliveira diz que “não há nada provado” e “se tivesse tanto problema, não estaríamos todos com saúde”.
Segundo ela, a siderúrgica sempre os ajuda. “Não nos envolvemos no assunto. Quando precisamos, a CSN é que nos ajuda, como quando caiu o muro, por causa da chuva. A Justiça vai nos pôr a par de tudo. O procurador Rodrigo esteve aqui e disse que nada está provado e precisa ter investigação”, disse Andressa, que não soube dizer se a empresa também ajuda outras comunidades na cidade.
Andressa reconhece que se preocupa, mas não tanto. “Preocupação é claro que temos, mas não me deixa sem dormir. Nunca deu problema. Essa água branca a CSN disse que é calcário.” De acordo com Andressa, a impossibilidade de plantar víveres não se restringe ao Volta Grande 4. “No Volta Grande 3 também não pode ter plantação. Era tudo escória, no bairro todo”, afirmou.
O único dos sete condomínios de Volta Grande 4 que tem portão eletrônico é o 225, o mais atingido pelo acidente ambiental. De acordo com Leonardo, a participação desses moradores nas assembléias do bairro é reduzida.
O iG enviou uma série de perguntas para a assessoria da CSN na segunda-feira. Até as 13h desta quinta-feira, não houve resposta.
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