Sem copa e sem cozinha

A Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016, que ocorrerão aqui no Brasil já começaram. Aliás, desde que o país consagrou-se como a “bola da vez” dos dois principais megaeventos esportivos do globo, que Estado e Sociedade Civil vem se mobilizando para o seu empreendimento e/ou seu questionamento.

Ponderações de diferentes setores da sociedade, tomando como base experiências históricas de grandes eventos no país, como, por exemplo, o Pan-americano de 2007, realizado no Rio de Janeiro, questiona a necessidade de investir tanto dinheiro público para eventos que beneficiarão uma ínfima parcela da sociedade, isso quando os próprios argumentos não passam a questionar os próprios benefício, já que “gato escaldado tem medo de água fria”.

Setores que ponderam no sentido de convencer a população da necessidade dos eventos esportivos, obviamente, rebatem os argumentos contrários. Enfatizam eles os mais diversos tipos de benefícios: melhoria da mobilidade urbana; investimentos em infra-estrutura; por exemplo, nos aeroportos; ampliação do turismo; incentivo à prática esportiva, de onde se alega um aporte de benefícios indiretos para outros setores sociais, como a saúde e a educação, entre outros.

Se o debate, ora em curso, depender da Organização das Nações Unidas (ONU), novos argumentos irão fortalecer grupos sociais que questionam os megaeventos nacionais. Isso por que, a despeito da necessidade de agilização das ações de viabilização do evento, atrocidades estão sendo acometidas à população mais humilde, e elas não tem relação alguma com saúde e educação. Ao contrário. Trata-se de impedir que o sujeito tenha garantido um dos seus direitos mais básico: a moradia.

Raquel Rolnik, relatora especial da ONU, em artigo escrito no sítio do yahoo! nos alerta que várias autoridades estão descumprindo acordos importantes, definidos internacionalmente, ao praticarem remoções de moradores de maneira arbitrária e sem os devidos cuidados impostos por lei, violando direitos humanos fundamentais.

Existem absurdos, tal como o relatado pela revista Carta Capital da semana passada, em que famílias são comunicadas sem tempo para organizar o seu desalojamento, se é que isso é possível. Diversos moradores recebem a notificação de desapropiração da área com um prazo máximo de “zero dia(s)”. (Ver imagem ao lado).

São moradores que vivem na comunidade há mais de 20, 30 anos e sofrem todo esse transtorno para dar passagem as obras que foram prometidas como contrapartida para a realização dos eventos esportivos. Tudo perfeitamente justificado pelas manobras ideológicas via discursos lacunares sobre melhoria da qualidade de vida, oportunidade de emprego, geração de renda, entre outros. “Na avaliação de Maria de Lourdes Lopes, coordenadora do Movimento Nacional de Luta por Moradia (MNLM), os megaeventos estão sendo usados como desculpa para expulsar os pobres para as áreas periféricas da cidade”. E não pense que isso vem ocorrendo apenas com moradores de comunidades sem regulação fundiária. Ainda segundo a mesma coordenadora, ouvida pela reportagem da Carta Capital, (que pode ser lida na íntegra clicando aqui), “Mesmo bairros que já passaram por processos de regularização fundiária (…), estão sendo alvo de desapropriações. O governo quer ocultar a pobreza do turista, maquiar a cidade para inglês ver”.

São por essas e outras que passamos a questionar o sentido e o significado de grandes eventos esportivos, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Eventos, inclusive, que não foram discutidos amplamente com a sociedade, que fazem parte de um desejo de grupos que parecem mandar no destino do país e do seu povo, que tem seus direitos violados por organismos do Estado que deveriam garantir e ampliar os mesmos.

Até quando?

http://esportemrede.blogspot.com/2011/04/sem-copa-e-sem-cozinha.html

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