No ano em que se relembra os 125 anos de luta do 1º de Maio, o Dia Internacional do Trabalhador no Brasil está esvaziado, fragmentado e despolitizado. O comentário é de Cesar Sanson, pesquisador do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores –CEPAT. Eis o artigo.
O 1º de maio perdeu a sua força política. Em muitas capitais sequer acontecerão atos como se pode perceber na programação divulgada pela CUT. A Pastoral Operária que tem tradição na organização de atos em várias localidades não faz nenhuma referência em seu sítio sobre mobilizações. A lembrança ao Dia Internacional do Trabalhador registra apenas uma “Mensagem do 1º de maio 2011”.
Em São Paulo, como vem acontecendo nos últimos anos acontecem três atos simultaneamente: As centrais Força Sindical, CTB, CGTB, NCST e UGT realizam o seu ato em Barra Funda; a CUT no Vale do Anhangabaú e as centrais CSP-Conlutas, Intersindical e a Pastoral Operária na Praça da Sé.
Em muitas capitais como Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba e Recife, os atos organizados pela CUT aconteceram nos dias 29 ou 30 de abril. Em Curitiba (PR) o ato quase chegou a ser cancelado em função da baixíssima participação, em Natal (RN) não chegou a reunir 50 pessoas.
Além da baixa participação, a fragmentação é outra marca do primeiro de maio nos últimos anos. Na década de 90, a Força Sindical introduziu uma “novidade” no primeiro de maio brasileiro: a realização de mega-shows e distribuição de prêmios com o patrocínio do capital privado. A Força reeditava assim os famosos churrascos promovidos pelos sindicatos pelegos dos anos 70. A CUT, rivalizando com a sua oponente e a acusando-a de “desideologizar” o Dia do Trabalhador, organizava atos na Praça da Sé. Nos anos 2000, porém, passou a adotar a mesma estratégia de sua rival, apenas evitando distribuir carros e apartamentos.
A Pastoral Operária continuou organizando a missa do trabalhador na Catedral e os atos na Praça da Sé denominando-e de “1º de maio classista” e a ela se juntaram recentemente a Conlutas e a Intersindical – oriundas de rachas na CUT.
O fato é que os primeiros de maios reunem cada vez menos gente, até mesmo aqueles animados por shows e distribuição de prêmios. As divisões entre as denominadas grandes sindicais como CUT e Força Sindical já não são tão explícitas. As disputas maiores ficam por conta de espaços no governo, particularmente no Ministério do Trabalho. Do ponto de vista político ambas são a favor da redução da jornada de trabalho, da reforma agrária, juros baixos, ampliação do salário mínimo etc.
Do ponto de vista sindical, a divisão maior encontra-se no “imposto sindical”. A Força Sindical e as outras centrais menores são contra qualquer mudança, a CUT defende a substituição do imposto por uma “taxa negocial”. Segundo o presidente da CUT Artur Henrique, “é preciso deixar muito claro que não estamos defendendo simplesmente o fim do imposto sindical. Queremos substituí-lo pela contribuição sobre a negociação coletiva, uma forma de sustentação financeira que será decidida e aprovada – ou não – pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras, em assembleias soberanas e divulgadas amplamente com antecedência, para que todos tenham a possibilidade de participar”.
O presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, afirma que as reivindicações de todas as centrais sindicais são as mesmas, mas critica a CUT e sua proposta de contribuição sindical: “Bater nesse ponto [fim do imposto sindical] é um erro, porque essa campanha para acabar com a contribuição é das elites, que querem destruir a estrutura sindical para tirar os direitos dos trabalhadores”.
Já, as centrais da esquerda acusam as grandes de despolitizarem o 1º de maio e em seu planfleto destacam: “Reivindicações por moradia, melhores condições de trabalho, por melhorias no serviço público, contratação de mais servidores, fim do congelamento salarial, reforma agrária e urbana e mudanças na política econômica você só verá na Praça da Sé”.
No ano em que se relembra os 125 anos de luta do 1º de Maio, as “lideranças” da classe trabalhadora parecem que estão mais preocupadas em trocar acusações e os trabalhadores cada vez menos os reconhecem como líderes.
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