Claudio Dantas Sequeira
Há exatamente uma semana chegou à mesa do ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, um relatório explosivo contra membros da cúpula do programa nuclear brasileiro. Com base nas denúncias do documento assinado pelas associações de servidores dos principais órgãos ligados ao programa (a CNEN e o Ipen), Mercadante pediu uma imediata investigação interna. Em poucos dias convenceu-se de que a situação era, de fato, grave e decidiu agir. A primeira medida será a demissão do presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Dias Gonçalves, e de toda a direção do órgão. Gonçalves é responsabilizado, dentre outras coisas, pelo atraso no licenciamento da usina de Caetité que paralisou a extração de urânio e obrigou o Brasil a comprar 220 toneladas do minério no Exterior, ao custo de R$ 40 milhões. Para Mercadante, trata-se de um constrangimento, já que o País detém uma das maiores reservas de urânio do mundo.
Caetité, no entanto, é apenas a ponta de um enrolado novelo que se tornou o programa nuclear. Mercadante ficou chocado ao saber que quatro reatores nucleares utilizados para pesquisa funcionam sem licença em três campi universitários. O processo de certificação desses reatores foi engavetado pelo presidente da CNEN e por seu diretor de radioproteção e Segurança Nuclear, Laércio Vinhas. “Dá muito trabalho e os reatores estão muito bem”, teria dito Odair Gonçalves, segundo relato de funcionários. Gonçalves nega. “Nosso pessoal está sobrecarregado”, justifica. Mas a gota d’água, para Mercadante, foi saber que Angra 2 opera há mais de uma década sem a “autorização de operação permanente”.
Além das questões técnicas, há críticas sobre o suposto excesso de viagens internacionais de Gonçalves e de nomeações de amigos para cargos de chefia. Seria o caso da física Maria Cristina Lourenço, que chefia a área internacional da CNEN e acompanhou Gonçalves em 11 das 14 viagens que ele fez em 2010. Odair Dias Gonçalves está à frente da CNEN desde 2003. Nesse período, entrou em choque com autoridades do setor e com o corpo de fiscais nucleares. Nem o Itamaraty o tolera e pouco fez em defesa de sua candidatura para cargos na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Foram três tentativas frustradas em 2010. “É um caso raro de unanimidade às avessas”, afirma um assessor de Mercadante. No final do ano passado, Gonçalves filiou-se ao PT. Mas nega interesse na carreira política.
Enviada por Zuleica Nycz.