Brigada da Via Campesina desenvolve ações na área rural do Haiti

Karol Assunção

Após dez meses no Haiti, Jefferson Macena retornou para casa, no Brasil. O militante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) participou da Brigada Internacionalista de Solidariedade ao Haiti, coordenada pela Via Campesina, que levou força e solidariedade aos haitianos e às haitianas que vivem no campo. O resultado deste trabalho foi apresentado no último dia 23, no Estado do Ceará, onde mora o militante.

Jefferson partiu em março de 2010, apenas dois meses após o terremoto que devastou Porto Príncipe e cidades vizinhas, e retornou para o Brasil no último dia 8. Durante esses dez meses, ele e mais 30 brasileiros e brasileiras trabalharam para ajudar o povo haitiano a superar a pobreza.

Mesmo não sendo diretamente afetado pelo abalo sísmico, o campo também sofreu as consequências do terremoto. Isso porque, de acordo com o militante, muitas pessoas que moravam na cidade perderam suas casas e foram para a área rural. “O campo se viu em um caos. Não tinha semente suficiente para todo mundo”, conta, destacando a precariedade no armazenamento de sementes e alimentos.

Segundo ele, os trabalhos se dividiram em quatro frentes: Formação Política, com a capacitação técnica de jovens em escolas agrícolas; Água, com a construção de mais de mil cisternas para o armazenamento de água; Reflorestamento; e Alimentação, com a distribuição de sementes e o incentivo à produção agrícola.

Para o integrante do MAB, a ação de Brigada no campo foi importante porque, além de ajudar a melhorar a situação no campo, levou informações e conhecimento para os camponeses e as camponesas. “Com a Brigada, os agricultores tiveram uma visão sobre o país. Para você ter uma ideia, muitos não sabiam nem o nome do presidente do próprio país. A informação não chega ao campo”, revela.

A expectativa é que a Brigada continue os trabalhos no país caribenho já nos próximos meses. Segundo Jefferson, um grupo deverá ir ao Haiti em fevereiro para assessorar a construção de mais cisternas, as quais, desta vez, deverão ser construídas pelos próprios haitianos. “Nós já capacitamos. Agora vamos fazer a assessoria”, comenta.

Desafios

Não bastasse a destruição causada pelo terremoto ocorrido no ano passado, o país ainda enfrenta problemas nas eleições, surto de cólera e ocupação militar estrangeira. Para Jefferson Macena, o Haiti ainda tem grandes objetivos a serem alcançados, como: a saída da Missão das Nações Unidas para Estabilização no Haiti (Minustah), a conquista da economia e a organização camponesa.

Mesmo não atuando em Porto Príncipe, o militante não deixa de lembrar a situação na capital haitiana. Depois de um ano, o cenário parece não ter mudado muito. “Na capital não mudou nada. As pessoas ainda estão nos acampamentos sujeitas à chuva, ventos e cólera”, destaca, criticando a falta de vontade do governo do país, que, segundo ele, está mais preocupado em “reconstruir o palácio presidencial”.

http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=53541