Um histórico quase que comum das ”mulheres de batalha”

“Deus está no corpo abusado e machucado de cada mulher” prostituta, afirmou a psicóloga Isabel Brandão Furtado, da coordenação da Pastoral da Mulher Marginalizada de Belo Horizonte. A Pastoral acompanha, há 25 anos, as cerca de 2 mil “mulheres da batalha” que trabalham, a cada noite, no centro da capital. A notícia é da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC), 04-01-2011.

Ela observa que, antes de serem mulheres em situação de prostituição, “são mulheres pobres, são mães de família lutando sozinhas pela manutenção de seus filhos”. Ampliando o olhar, ela vê ali “pessoas que desde muito cedo convivem com a pobreza crônica e sua implicações: moradia, alimentação, saúde, escolaridade precária, famílias desestruturadas”.

Em entrevista à TV Comunitária de Belo Horizonte, Isabel Furtado lembrou que a violência acompanha as “mulheres da batalha”, como elas se definem, desde clientes, gerentes e funcionários de hotéis de passagem. “A violência simbólica impede que a mulher assuma inclusive seu nome verdadeiro. Um de seus maiores temores é que seja reconhecida”, afirmou.

Em trabalho de mestrado sobre o mundo dessas mulheres, a psicóloga constatou que a prostituição é um tema complexo, que não pode ser visto fora de um contexto sócio-político-econômico, “transversalizado pelas questões do patriarcado e de gênero. “A história da opressão das mulheres é antiga. Passamos da condição de deusas, na Antiguidade, para bruxas, na Idade Média”, lembrou.

O que encanta a psicóloga é que existe uma ética no exercício profissional da prostituição. “A mulher decide qual cliente atenderá, que tipo de programa realizará e quanto cobrará. Assim, ela pode exercer minimamente seu poder de decisão”, descreveu. Estimativa informal baseada no número de preservativos adquiridos, na área central de Belo Horizonte ocorrem 300 mil relações sexuais por mês. O preço médio do programa é de 10 reais (cerca de 6 dólares) e a diária em torno de 60 reais.

Do total arrecadado, 60% vão para os donos dos hotéis das redondezas e 40% para as cerca de 2 mil mulheres da batalha. Uma das prostitutas definiu, no blog e jornal da Pastoral, o que entende como o cliente ideal:

– Um cavalheiro. Aquele que nos trata com afeto, mesmo sabendo que somos profissionais. Aquele cara que nos procura pelo nosso trabalho e nos respeita. Aquele que se alivia conosco do estresse do dia-a-dia, nos agradecendo por existirmos. Aquele homem que vem limpinho e cheiroso para nós fazermos de tudo para estarmos limpinhas e cheirosas para ele. Aquele que pode ser operário, peão, comerciante, estudante, professor, doutor… mas demonstra educação.

A Pastoral da Mulher Marginalizada é uma associação sem fins lucrativos. Ela existe há mais de 25 anos, e é apoiada pelas irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor. A Pastoral acolhe mulheres que querem abandonar o campo ou as que pretendem continuar, e oferece capacitação na área de seu interesse, como cursos de inclusão digital, costura, cabelereira, culinária e orientação educacional para as que desejam retomar os estudos. Essas mulheres clamam por respeito e solidariedade, disse Isabel Furtado.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=39591

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