Humilhação pedagógica

Por José Luís Fiori, em Outras Palavras

Assumo a responsabilidade de assinar
um texto no qual eu não acredito,
mas que sou obrigado a implementar.
A dura verdade é que nos foi imposto
um caminho de mão única”
Alexis Tsipras, citado por “O Globo”, 17/07/2015

É muito difícil identificar causas e estabelecer culpas, quando se está falando de processos históricos de enorme complexidade, como é o caso do acelerado esgotamento do projeto de unificação europeu. A atual crise grega representa apenas um ponto numa trajetória de erosão e de declínio que começou faz tempo, talvez no momento mesmo da unificação alemã, ou na hora em que o projeto se expandiu de forma irresponsável, incluindo 28 países totalmente diferentes e desiguais. Sem falar na importância decisiva que teve a criação da moeda única – o Euro – sem o respaldo de uma autoridade fiscal unificada e soberana. Mas agora esta história já é passado, e o projeto concebido pela geração de Schuman, De Gasperi, Adenauer e Delors, já acabou. E o mesmo se pode dizer da sua nova versão desenhada por Helmut Kohl e François Mitterand, na década de 80.  (mais…)

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Podemos, contra o sistema, porém no governo?

Reflexões sobre o partido-movimento espanhol, a partir do livro de Pablo Iglesias. Inovação: ser pós-capitalista, sem ser autoritário. Problema: poesia suprirá lacunas teóricas?

Por Benedetto Vecchi, no Il Manifesto | Tradução: Antonio Martins| Imagem: Deih, em Valencia, Espanha – Outras Palavras

Populismo 2.0 é a expressão usada habitualmente para qualificar a experiência política do Podemos, o partido espanhol que sacudiu o panorama político ibérico. Os analistas, como sempre, colocam em evidência as distâncias, os elementos de descontinuidade em relação ao pensamento político clássico. Ao fazê-lo, procuram inscrever esta jovem formação na família do populismo de matriz latino-americana, demonizado na Europa. A leitura de Desobedientes – de Chiapas a Madri, de Pablo Iglesias, explode tal simplificação em mil pedaços. Com uma ressalva: não se desmente a qualificação de antissistemaatribuída ao partido – ela é enriquecida, ao contrário, de novos elementos, que incluem o Podemos na crítica à democracia representativa. O que não exclui, porém, uma forma institucional fundada num equilíbrio dinâmico entre a democracia direta e sua forma representativa – além do reconhecimento de processos de autogoverno articulados pela sociedade civil por meio de projetos como cooperativas sociais, organizações de mútuo socorro e sindicalismo de base, coordenados em rede. (mais…)

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Mujica: ‘a Alemanha de hoje manda e a Europa se cala’

O ex-presidente uruguaio afirmou que a solução imposta à Grécia na passada segunda-feira pela União Europeia é ‘brutal’.

Esquerda.net, na Carta Maior

“A Alemanha impõe a sua economia e alta tecnologia, mas não só. Na realidade, esta Alemanha de hoje manda na Europa. As suas decisões são duras e definitivas. É pegar ou largar. E de forma natural, esteja ou não convencido, o resto da Europa consente-o, o que não é habitual na história europeia dos últimos 2000 anos”, defendeu o ex-presidente uruguaio. (mais…)

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Rendição da Grécia, miséria do euro e do capitalismo

Humilhação imposta a Atenas é aviltante até nos detalhes. Mas esclarece algo: limitar-se à lógica da aristocracia financeira é o túmulo dos projetos transformadores

Por John Cassidy | Tradução: Antonio Martins – Outras Palavras

Os governantes da Europa que retornaram de Bruxelas a suas capitais, após a maratona de negociações que manteve a Grécia na zona do euro, com enorme custo para a soberania política do país, definiram um novo cenário político para o continente. Ele é ameaçador. Ao forçar o governo de Alexis Tripras a uma rendição abjeta – ignorando os pedidos de alguns de seus vizinhos, em particular a França – a Alemanha exerceu com estrondo, talvez pela primeira vez após a reunificação, seu poder no palco europeu. (mais…)

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‘Política imposta pela Alemanha é crime contra a Humanidade’

Sujeitar o povo a condições de asfixia – criando premeditadamente as condições para uma catástrofe humanitária – viola todas as convenções internacionais

InfoGrécia/Carta Maior*

A poucas horas da votação das medidas prévias de austeridade, a presidente do Parlamento grego voltou a apelar ao Governo para que não aceite a chantagem dos credores para um acordo em que já nem o FMI acredita. Leia aqui o discurso de Zoe Konstantopoulou na semana passada a justificar a abstenção na proposta, traduzido pelo blogue Aventar. (mais…)

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“Os países endividados deixaram claro que eram nosso pior inimigo”. Entrevista com Yanis Varoufakis

IHU – “Nada mais me surpreende, nossa zona do euro é um lugar incômodo para as pessoas decentes. Tampouco me surpreende que (Tsipras) fique e aceite um péssimo acordo. Entendo que sinta que tem obrigações com aqueles que o apoiaram e não quer que nosso país se transforme em um Estado falido. Mas não vou mudar minha opinião, a mesma desde 2010, de que a Grécia deve parar de adiar e fingir, devemos parar de pedir novos empréstimos e fingir que resolvemos o problema, quando isso não é verdade; quando nossa dívida é ainda menos sustentável com novas medidas de austeridade que mergulham ainda mais a economia e o fardo recai cada vez mais sobre os que não têm nada, com a inevitável crise humanitária. Não estou disposto a aceitar isso. Não contem comigo”, afirma Yanis Varoufakis, ex-ministro das Finanças da Grécia, em entrevista concedida a Henry Lambert, publicada por News Stateman e reproduzida por El País, 14-07-2015. (mais…)

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‘A dívida grega, assim como a brasileira, é odiosa’

Para a brasileira que atua na Comissão da Verdade da Dívida Pública da Grécia, a dívida grega é mero veículo de corrupção e expropriação.

Najla Passos, Carta Maior

A brasileira Maria Lúcia Fattorelli recebeu incrédula a notícia de que o governo grego firmou novo acordo para renegociação da dívida pública do país. Um acordo que, se for aprovado pelo parlamento, obrigará a Grécia, em troca de um socorro financeiro de cerca de 80 bilhões de euros, a se submeter ao mais severo programa de austeridade fiscal já proposto na zona do euro. (mais…)

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O golpe econômico da Alemanha contra a Grécia

A Alemanha jogou sabendo que ganhava, porque sabia que a Grécia não iria por sobre a mesa a saída do euro.

Alfredo Serrano Mancilla – Publico.es, em Carta Maior

Mais uma vez, a resposta foi fechar o cadeado contra as alternativas. A Alemanha quer a União Europeia assim e de nenhuma outra forma. Não tolera nem permite que ninguém a contrarie. Por exemplo, quando, em 2005, os franceses e os holandeses rejeitaram o Tratado Constitucional, a Alemanha tirou da manga um inesperado Tratado de Lisboa, que substituiu o anterior, mas sem a necessidade de ser submetido ao voto popular. O país tampouco é um exemplo no que diz respeito a cumprimento de regras. O estilo de Angela Merkel é naquela linha de que as regras só servem quando não seja ela mesma obrigada a cumpri-las. (mais…)

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Depois do “oxi”, foi traição?, por Bruno Cava

IHU – “O debate à esquerda novamente empaca na dialética entre “vontade política” e “correlação de forças”. De um lado, a acusação de falta de vontade política, de capitulação perante a chantagem capitalista, de um vício da vontade. De outro lado, a desculpa do realismo político, do discurso que não há alternativa, que infelizmente temos que ser pragmáticos e fazer o que eles (a troika) quer que façamos. Se cairmos nessa dialética viciosa, não haverá saída à crise: ela será sempre, ou um discursinho idealista de “saída à esquerda” que atende a nossa boa consciência, ou um endurecimento sectário cuja consequência será uma ainda maior impotência política”, escreve Bruno Cava, em artigo publicado por UniNômade, 12-07-2015. (mais…)

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