Por Padre Dário, em seu Blog
Foi um ano de lágrimas e sementes, para a comunidade de Piquiá de Baixo.
Muitos já conhecem a luta orgulhosa, resistente e firme dessa comunidade, no município de Açailândia-MA. Sofrendo há quase trinta anos os efeitos devastadores da poluição do ciclo de mineração e siderurgia em sua região, os moradores começaram de forma mais organizada a denunciar o descaso do Estado e as responsabilidades das empresas, reivindicando -para começar- o reassentamento coletivo numa área livre de poluição.
O novo bairro, projetado de forma participativa pela comunidade junto a uma competente assessoria técnica, deverá ser financiado em parte pelo Programa Minha Casa Minha Vida, conforme um projeto que foi aprovado pela Caixa Econômica Federal ainda no final de 2014.
Desde o começo de 2015, Piquiá de Baixo está aguardando a seleção desse projeto de reassentamento. As promessas de aprovação se repetiram ao longo dos meses do ano, mas essa semente plantada com tanto suor pela comunidade parecia não querer brotar.
Enquanto isso, outras lágrimas foram derramadas, pelo crime ambiental das empresas Vale e BHP-Billiton (Samarco) em Minas Gerais e Espírito Santo.
Os moradores de Piquiá de Baixo estavam em Mariana poucas semanas antes do desastre, participando do encontro da Articulação Internacional dos Atingidos pela Vale. É triste que as comunidades venham a se conhecer e reconhecer pelas tragédias e o sofrimento que têm em comum. Não é isso que elas teriam o orgulho de partilhar; não querem ser lembradas pelas lágrimas, e sim por suas resistências e vitórias.
Piquiá de Baixo plantou diversas sementes de resistência, ao longo de 2015: para manter os moradores unidos, animados e bem informados, foram realizadas numerosas “rodas de conversa”, em pequenos grupos em volta das casas; foi organizada toda a documentação de cada beneficiário do reassentamento; a comunidade articulou-se em várias instâncias, para manter forte a pressão e não cessar de reivindicar seus direitos: desde a Câmara Municipal até o Governo do Estado, desde o Ministério das Cidades até a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). No mês de outubro, o presidente da Associação Comunitária dos Moradores do Pequiá, com o suporte da assessoria jurídica da comunidade, participou de uma audiência temática na CIDH, em Washington, solicitando urgentes medidas de reparação e mitigação dos danos, frente à delegação do Governo Brasileiro.
O tempo da colheita custou, mas chegou!
No dia 29 de dezembro a Associação de Moradores recebeu o título oficial de propriedade do terreno onde a comunidade será reassentada.
No dia 31 de dezembro, o Ministério das Cidades publicou em Diário Oficial a seleção do projeto da Associação Comunitária dos Moradores do Pequiá para seu reassentamento. Depois de um ano e 14 dias de espera, a comunidade tem finalmente garantia de financiamento para seu novo bairro!
Quem semeia no pranto recolhe com alegria, diz o Salmo 126, que na próxima semana a comunidade inteira proclamará numa celebração comunitária em ação de graça e para renovar suas forças.
Os moradores de Piquiá já diziam isso com outras palavras, ao lembrar “Nossa agonia é nossa vitória”. Na luta persistente, na firmeza de quem não abaixa a cabeça e não se rende, já está escrito um fragmento de vitória, assim como na semente está escondido o broto.
Pode tardar, mas a vida vai vencer!
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