Na CPT Bahia
A Associação de Advogados de Trabalhadores Rurais, a Comissão Pastoral da Terra, o Sindicato de Trabalhadores Rurais de Santa Maria da Vitória e a Casa de Cultura Antonio Lisboa de Morais vêm a público informar, com indignação, que no dia 14 de dezembro a placa em homenagem ao advogado patrono da AATR, Eugênio Lyra, foi alvo de atentado na cidade de Santa Maria da Vitória, no oeste da Bahia. A placa e a sua base de sustentação simplesmente desapareceram.
Um conjunto de organizações, dentre elas a AATR, o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santa Maria da Vitória e a Comissão Pastoral da Terra, inaugurou uma placa na sede do município, numa justa homenagem à trajetória deste grande lutador das causas populares e especialmente do campesinato baiano. Em nossa compreensão, não se trata de crime comum, razão pela qual descartamos a possibilidade que tenha sido um simples ato de vandalismo. Assim como na década de 70, neste mesmo ano de 2015, centenas de milhares de trabalhadores e trabalhadoras rurais, comunidades de fundos e fechos de pasto, quilombos e posseiros continuam sendo expropriados em massa das suas posses no oeste da Bahia, para dar lugar a “propriedades” que comumente ultrapassam 200 mil ha.
A grilagem de terras nesta região é uma constante desde que chegaram fazendeiros para implementar um projeto de desenvolvimento para o campo que é extremamente danoso para os camponeses. Nos últimos anos, intensificam-se a compra ilegal de terras por nacionais e estrangeiros; o desmatamento indiscriminado do cerrado para implementação das monoculturas de soja, algodão, milho e eucalipto; o uso intensivo de agrotóxicos; a ocupação irregular das veredas e o uso predatório das águas que brotam do aquífero Urucuia, fonte primária das nascentes dos rios que cortam a região e que constituem os principais tributários do Rio São Francisco.
Os governos, em todas as esferas, subordinam-se aos interesses das transnacionais que operam na região oeste, tendo recentemente apresentado um novo plano para expansão da fronteira agrícola sobre o cerrado que ainda permanece de pé, chamado de MATOPIBA (por abranger áreas dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). O fez, no entanto, sem qualquer procedimento de consulta às comunidades rurais que ainda resistem, em atendimento aos interesses do agronegócio e dos setores do Estado que lhe dá suporte financeiro e policial.
O atentado ao monumento em homenagem a Eugênio Lyra se configura como uma evidente ameaça aqueles e àquelas que permanecem vigilantes e em luta contra a grilagem e suas consequências nefastas, assim como pela conquista definitiva dos territórios das comunidades tradicionais. Não nos intimidarão. Seguiremos em frente denunciando as inúmeras violações de direitos praticadas pelo agronegócio e pelos governos que o apoiam. Exigimos, por fim, que sejam devidamente apuradas as circunstâncias do atentado e que haja responsabilização dos envolvidos.