Condenação de Hugo Soares Pimenta fecha um ciclo de impunidade que se arrastava por 12 anos. Condenado a 96 anos, teve a pena reduzida pela metade por acordo de delação premiada
MPF MG
Belo Horizonte – Condenado o último acusado pelo assassinato dos servidores do Ministério do Trabalho – três fiscais e um motorista – no dia 28 de janeiro de 2004. O empresário Hugo Soares Pimenta foi sentenciado a 96 anos de prisão, mas como fez delação premiada com Ministério Público Federal (MPF), teve a pena reduzida pela metade, totalizando 47 anos, 3 meses e 27 dias de reclusão.
No julgamento, que durou dois dias, o tribunal do júri federal em Belo Horizonte, condenou o empresário, acusado de ser o intermediário entre os mandantes e os pistoleiros, pelo crime de quádruplo homicídio, triplamente qualificado por motivo torpe, sem possibilidade de defesa das vítimas, mediante pagamento de recompensa e para assegurar a impunidade de outro crime, a frustração de direitos assegurados na legislação trabalhista. Como o réu colaborou com a justiça, os jurados aceitaram a redução da pena.
Esse foi o último julgamento dos quatro acusados de terem encomendado a morte dos servidores do Ministério do Trabalho e Emprego que atuavam na fiscalização do trabalho escravo nas fazendas situadas na região Noroeste do estado, no episódio que ficou conhecido como Chacina de Unaí.
Nos dois julgamentos anteriores, que ocorreram no início do mês, os principais mandantes do crime, os irmãos Norberto, conhecido à época dos crimes como o Rei do Feijão, e Antério Mânica, ex-prefeito de Unaí, foram condenados a 98 anos, seis meses e 24 dias e 99 anos, 11 meses e 4 dias de prisão, respectivamente. O empresário José Alberto, que confessou ter encomendado a morte do fiscal Nelson José da Silva, foi condenado a 96 anos, cinco meses e 22 dias de prisão.
O crime
O crime brutal ocorreu na manhã do dia 28 de janeiro de 2004. Os auditores fiscais Nelson José da Silva, João Batista Lages e Erastótenes de Almeida Gonçalves, acompanhados do motorista Ailton Pereira de Oliveira, foram emboscados e mortos a tiros em uma estrada rural do município de Unaí, quando se dirigiam para efetuar fiscalização em fazendas da região.
Os executores dos homicídios, Erinaldo Vasconcelos Silva, Rogério Allan Rocha Rios e Willian Gomes de Miranda, já cumprem pena pelos crimes. Eles foram julgados e condenados pelo Tribunal do Júri Federal em setembro de 2013, com penas que foram de 56 a 94 anos de prisão. Atualmente cumprem pena na Penitenciária Nelson Hungria, onde já se encontravam presos desde a sua prisão em julho de 2004, assim que os crimes foram desvendados.
No entanto, os mandantes do bárbaro crime, condenados a penas que somam mais de 340 anos, continuam soltos, pois seguindo jurisprudência dominante na matéria, o juiz federal que presidiu o júri, Murilo Fernandes de Almeida, concedeu aos réus o direito de recorrerem em liberdade.
Julgamento
Em seu depoimento perante o júri, Hugo Pimenta sustentou a tese de que tinha sido um expectador privilegiado de tudo que estava acontecendo, que não tinha participado de nenhum ato e tentou jogar a responsabilidade para o empresário José Alberto, que na semana passada foi condenado a 96 anos de prisão pelo mesmo crime.
No entanto, a tese não se sustentava e foi desconstruída por fartas provas apresentadas pelo MPF, que demonstrou que Hugo tinha interesse em ajudar os Mânica, que são fazendeiros importantes na região e influenciavam diretamente sua empresa no município de Unaí.
Em plenário o MPF demonstrou que em todas as fases do planejamento do crime Hugo Pimenta, não foi um mero observador, ao contrário, ele ajudou na contratação e pagamento dos pistoleiros, além de dar cobertura para os assassinos.
Como o réu colaborou com a investigação e ajudou a esclarecer o caso, os procuradores, em sua sustentação oral, pediram aos jurados que aceitassem a redução da pena do acusado. Os jurados concordaram com a redução. O MPF defendeu a diminuição de dois terços mas, ao estabelecer a pena definitiva, o juiz Federal Murilo Fernandes de Almeida, reduziu a pena apenas pela metade.
A procuradora da República Mirian Moreira Lima, uma das autoras da denúncia e que atua no caso desde 2004, defendeu o trabalho que foi feito, segundo ela todo o processo foi realizado com todo o controle e garantias constitucionais. “É um alívio para o MPF esses resultados, a missão foi cumprida, demos uma resposta à sociedade, as penas impostas aos acusados estão à altura dos crimes praticados. E ainda que as defesas recorram, esperamos que sejam os recursos julgados o mais breve possível para que finalmente os réus cumpram a pena a que foram condenados”, disse.
No Tribunal do Júri, o MPF foi representado nos três julgamentos dos mandantes por quatro procuradores da República: Mirian Moreira Lima, Bruno Magalhães, Gustavo Torres e Hebert Reis Mesquita. O procurador de Justiça aposentado Francisco Patente atuou como assistente da acusação.
Assessoria de Comunicação Social
Ministério Público Federal em Minas Gerais
Não sabem com que alívio recebo esta notícia. Foi o grito arrancado depois de 11 anos e, confesso, cética que iríamos chegar à condenação dos responsáveis no país da impunidade.
Por 30 anos, atuando na inspeção do trabalho, sempre nos sentimos tão sozinhos em nossa tarefa diária de enfrentar o capital voraz e o trabalho degradante e tão desprotegidos por nossa instituição, que nunca deu o devido valor ao que fazíamos e, muito menos, o amparo necessário para realizar operações perigosas, lidando com os mais sanguinários patrões, verdadeiros gângsteres-delinquentes. Foi o que aconteceu com os colegas auditores-fiscais, Eratóstenes de Almeida Gonsalves, João Batista Soares Lage e Nelson José da Silva e com o motorista Ailton Pereira de Oliveira, que foram mandados para o abate, para o sacrifício, sem qualquer planejamento estratégico para protegê-los, mesmo sabendo que estavam ameaçados, Eles comunicaram ao delegado regional do trabalho, à época, que menosprezou seus apelos, como tantas vezes fizeram conosco, e não tomou nenhuma providência,
À responsável pelo programa de combate ao trabalho escravo em Brasília, à época também secretária da inspeção do trabalho, só lhe interessava as metas, números e estatísticas para lhe garantir prestígio junto ao Palácio do Planalto e sua manutenção no cargo, bem como agradar aos organismos internacionais, como a OIT-Organização Internacional do Trabalho para obter as benesses que a burocracia oferece aos que lhes servem, tais como viagens internacionais, fotos em jornais e revistas. Mesmo que isto representasse o sacrifício de tantos outros.
Não podemos ter os colegas de volta e suas famílias não mais vão compartilhar suas alegrias e tristezas com eles, mas pelo menos os perpetradores desta violência não ficarão IMPUNES.
A JUSTIÇA FOI TARDIA, MAS FINALMENTE DESTA VEZ FOI FEITA! ESPEREMOS QUE SEJAM CUMPRIDAS AS PENAS ATRIBUÍDAS A ESTES CRIMINOSOS!