Indígenas universitários pedem demarcação de terras em MS

Cerca de 350 estudantes fizeram piquete na entrada do campus para chamar a atenção sobre causas indígenas

Flávio Verão, do Progresso

Estudantes e professores dos cursos de Licenciatura Indígena e Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) fizeram piquete na manhã de ontem na entrada da Cidade Universitária, composta pela UFGD e Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

Eles interrompiam temporariamente a entrada de veículos no campi para chamar a atenção da comunidade acadêmica sobre o processo de demarcação de terras e reforma agrária no país. Somente na UFGD há cerca de 7 mil estudantes e desse público cerca 350 são de aldeias indígenas, de assentamentos e da agricultura familiar.

Entre os indígenas, o que mais preocupa é a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215, que dá ao Congresso Nacional o poder de aprovar eventuais propostas de demarcação enviadas pela Fundação Nacional do Índio (Funai).

Atualmente, o Ministério da Justiça edita decretos de demarcação a partir de estudos feitos pela Funai. “Se com a Funai o processo de demarcação é fragilizado, lento, imagina se transferi-lo para o Congresso, onde sabemos que há bancada de ruralistas que jamais vai autorizar qualquer tipo de demarcação”, questiona o guarani Daniel Lemi Vasques, indígena da cidade de Aral Moreira, onde é professor e, na UFGD, é acadêmico de Licenciatura Indígena. A universidade tem estudantes de toda a região.

A proposta tramita desde o ano 2000 no Congresso Nacional e pode ser votada até o meio do ano. O guarani e professor universitário Eliel Benites diz que o manifesto no campi foi uma forma de mostrar para a comunidade acadêmica que há indígenas e moradores de assentamento nas universidades e, que embora estejam em menor número, nem por isso vão deixar de reivindicar melhorias para as suas comunidades. “Queremos mostrar a nossa angústia, o atual momento que vivemos, todos precisam enxergar que esse projeto de lei que tramita no Congresso é um retrocesso e que vai prejudicar os indígenas”, disse o professor.

A estudante Ana Carla Ferrari, de Licenciatura em Educação no Campo, mora no assentamento Itamarati, em Ponta Porã. Além de se solidarizar em favor dos indígenas, contra a PEC 215, ela também protesta contra a PL 4330, o projeto de terceirização das atividades-fins nas empresas e instituições. “São projetos que vão contra os trabalhadores e contra os indígenas. Não podemos deixar que sejam aprovados no Congresso”, opina.

Cerca de 200 estudante participaram do manifesto, ontem, no campi. Os acadêmicos de Licenciatura Indígena estavam com trajes típicos e entoaram canto e fizeram dança, quando a entrada de veículos era bloqueada, formando grande fila. O manifesto foi realizado apenas no período da manhã.

Imagem: Estudantes indígenas, de assentamentos e ligados à agricultura familiar protestam contra a PEC da Demarcação e projeto de terceirização das atividades-fins nas empresas e instituições em todo País. (Foto: Hedio Fazan)

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