Como parte de ação internacional, mais de 3 mil mulheres realizam marcha em Varzelândia por direitos
Maíra Gomes, no Brasil de Fato
“Estamos gritando aos quatro ventos que vamos resistir. Estamos denunciando a violência, a injustiça social e a violação de direitos contra as mulheres”, afirma Maria de Lourdes Souza Nascimento. Ela é presidente da Associação Coletivo de Mulheres do Norte de Minas, que desde 2010 luta sem descanso contra os empreendimentos da mineração no norte do estado.
Já foram realizadas três marchas contra a mineração, uma a cada ano com exceção de 2014. Desta vez, o ato vai fazer parte da IV Ação Internacional da Marcha Mundial das Mulheres, unindo pessoas de todo o estado. O que começou com 400 pessoas e já chegou a três mil, em 2013, deve reunir desta vez quatro mil mulheres, na cidade de Varzelândia, entre os dias 17 a 19 de abril.
A ação é construída pelo movimento Marcha Mundial de Mulheres (MMM), que desde o ano 2000 reúne mulheres e organizações feministas de todo o mundo em ações que denunciam o machismo e visibilizam as experiências das mulheres. “Este ano vamos denunciar a questão da mineração e pautar a agroecologia como forma de resistência das mulheres. Buscamos fortalecer a luta que estas mulheres vêm fazendo no norte de Minas”, explica Andreia Roseno, integrante do coletivo Comadre Maria, da MMM em Teófilo Otini.
A IV Ação Internacional da Marcha está sendo realizada em outros 96 países, onde a MMM está organizada, entre os meses de abril e outubro. No Brasil, atividades acontecerão em diversos estados, como Tocantins, Bahia, Pernambuco, bem como em diversos países da América Latina.
Andreia explica que a organização da Marcha é feita apenas por mulheres, em um método conhecido como “auto-organização”. “É um princípio que fortalece a mulher, faz com que ela se reconheça como oprimida dentro desse sistema e encontre formas de luta e enfrentamento”, diz. “A Marcha é um movimento da classe trabalhadora, e é pra fortalecer a emancipação da nova mulher e do novo homem que a gente quer construir”, completa.
Mulheres resistem no Norte de Minas
“A mineração causa violência, destruição ambiental, tem expulsado famílias de suas casas e a única forma de resistência são as mulheres do norte de Minas”, avalia Maria de Lourdes.
São mais de cinco projetos de megaempreendimentos no Norte de Minas, dois de minerodutos, que devem causar danos ambientais irreversíveis. Impactos como falta de água, falta de terra para plantar e despejos são diretamente sentidos pelas mulheres, as cuidadoras responsáveis pela família.
“A luta é pra continuar vivendo com decência. Queremos continuar vivendo onde estamos hoje, no campo e em pequenas cidades. Lutamos por respeito ao meio ambiente, às mulheres. Queremos investir na agroecologia, que já fazemos há muito tempo. A mineração está sendo uma catástrofe nas nossas vidas”, lamenta a agricultora.
Além da passeata, o evento contará com oficinas, palestras, debates, feira com produtos agroecológicos e atividades culturais. Os temas centrais a serem abordados serão mineração, agroecologia, reforma política e constituinte.
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Foto: Reprodução/Mulheres e Agroecologia em Rede 2.
Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.