Por Daniela Felix*, em Combate Racismo Ambiental
Desde domingo passado, dia 27/12, nossos veículos midiáticos estaduais foram tomados por forte comoção, em razão da triste morte de um ciclista, jornalista notório e empresário de sucesso, vítima de atropelamento na SC 401.
A cerimônia de despedida foi marcada pela presença das ilustres classes política, econômica e de comunicação do Estado.
A partir do fato, a mídia investigativa está na busca frenética de responsabilidades, que vai desde a culpa do “pseudo-bêbado dorminhoco”, que está confinado no Presídio de Florianópolis, até a política de construções de ciclofaixas, com promessas de toda a elite política do executivo, municipal e estadual.
Atos de ciclistas foram promovidos em protesto a mais uma morte.
Nunca demos tanta atenção a uma morte, por certo triste e desnecessária.
Manchetes e mais manchetes. Repercussão internacional.
Já à morte por degolamento à luz do dia de uma criança indígena Kaingang, de 2 anos, mamando no peito de sua Mãe, na Rodoviária de Imbituba/SC: uma breve narrativa do fato e uma pretensa (e falsa) informação de conclusão da apuração da responsabilidade.
Manchetes nos jornais?
Nenhuma.
Busca de informações sobre o extermínio das populações indígenas no estado?
De forma alguma.
Saber os motivos que levam as populações indígenas a migrarem pro litoral na temporada?
Pra quê!
Enfim… Esses são os valores e as prioridades nas escolhas do que deve ser veiculado.
Ontem, dia 30, e hoje, 31, último dia do ano, não cabe um indiozinho nos jornais, já que nossa mídia está ocupada narrando a vida cheia de méritos e brilhos das Celebridades e pseudo-Celebridades que até ontem estavam em crise e que, “apesar da crise”, hoje estarão tomando banho de champagne francês nas festas pagas a preços exorbitantes, com seus trajes moldados aos corpos esculturais produzidos nas academias.
É mais importante a pose de um cantor sertanejo universitário (de baixíssima qualidade) num iate de U$5 milhões à dor de uma Índia em choque que teve seu filho Vítor assassinado em seus braços por um desajustado que achou que a vida de uma criança marginalizada não vale nada.
De fato.
É esse o 2015 que torço para que jamais se repita.
São esses pesos e medidas que me esforço dia após dia para mudar.
É o amor ao outro que me move. Rico ou pobre, célebre ou anônimo, da elite ou da periferia.
Somos humanos e me empenho incansavelmente para que esta convivência, apesar das diferenças, possam habitar o mesmo Mundo, os mesmos espaços.
2016 não será diferente se continuarmos os mesmos.
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À Família do Índio Kaingang Vítor, meus mais profundos sentimentos.
Ao Povo Kaingang minha solidariedade e apoio nas lutas, que eu sei que são muitas e imensas.
A todas e todos os demais meu imenso afeto.
Parabéns pelo texto…reflexão importante é que passa a largo….2016 cheio de novas atitudes. ..