“Não se aproxime de uma cabra pela frente, de um cavalo por trás ou de um idiota por qualquer dos lados”. (Provérbio Judeu)
Por Leonardo Isaac Yarochewsky, em Justificando
Segundo o clássico dicionário Aurélio, idiota é o homem sem educação, ignorante, pouco inteligente, estúpido, imbecil, pretensioso, afetado, amalucado, etc.
Quem terá sido o grande idiota do ano? Não, não foi um só, foram vários idiotas que marcaram o ano de 2015. Em todas as áreas tivemos idiotas que se destacaram pelas suas patetices, pelas suas estupidezes.
No campo do direito não faltaram idiotas. Muitos foram os que ordenaram prisões desmedidas, ignorando o devido processo penal e os princípios constitucionais, em especial, o da presunção de inocência. Alguns idiotas desprezaram o contraditório e o sagrado direito de defesa. Outros idiotas exageraram pretensiosamente e com pouca inteligência na aplicação de penas privativas de liberdade totalmente incabíveis e sem a fundamentação devida.
Imbecis que acreditaram que a corrupção surgiu no século XXI e que é exclusividade de determinado partido político. Pretensiosos que se acharam os “paladinos” da justiça e que apresentam (des) medidas autoritárias, despropositadas e amalucadas contra a corrupção. Idiotas que desejaram transformar o que tem natureza cautelar e provisória em definitivo. Que buscaram a execução provisória da pena. Que acreditaram que a “impunidade” está nos prazos prescricionais e em penas “diminutas”. Idiotas que clamaram pela exacerbação das penas e em prol da criminalização.
Vários foram os jornalistas idiotas. Que flertaram com o golpe contra a democracia. Que ao invés de informarem o leitor com reportagens e matérias sérias, responsáveis e comprometidas com a verdade, defenderam movimentos fascistas e manipularam a opinião pública(da) com matérias sensacionalistas e levianas. Jornalistas idiotas e pretensiosos, afetados e que nada, absolutamente nada, contribuíram para o debate democrático. Jornalistas comprometidos com as elites e o poder econômico. Tolo, travestido de jornalista, cujo nome não vale a citação, de uma revista desqualificada e comprometida com o golpismo, que foi muito além das idiotices. Na verdade, um ignorante que se escondeu durante todo ano de 2015, como sempre o faz, atrás da liberdade de imprensa e da agressividade desmedida para com todos aqueles que trilharam o caminho sereno da democracia e da defesa dos direitos fundamentais. Insultou e agrediu, como de costume, profissionais respeitados e juristas consagrados. Fez do ódio sua caneta. Na estupidez encontrou suas amalucadas razões. Piedade Senhor, ele não sabe o que escreve e o que diz.
A política foi um paraíso para os idiotas. Da famosa bancada “BBB” saíram, sem dúvida, as maiores estupidezes. As propostas mais amalucadas, pretenciosas, preconceituosas, estúpidas e fascistas tiveram origem nos congressistas que representam as bancadas da violência policial e da agressão (bala); do perverso e indolente agronegócio (boi); do preconceito e da intolerância religiosa (bíblia).
Houve idiotas que não se conformaram, até hoje, com o resultado das eleições livres e democráticas. Idiotas que fizeram da Polícia Federal cabo eleitoral.
Alguns completamente idiotas, alheios à democracia, defenderam a volta da ditadura militar. Idiotas reacionários e fascistas.
Nas universidades e nas mais de 1.200 faculdades de direitos existentes no Brasil, também, há muitos idiotas. Idiotas que creem que o diploma é a chave para o paraíso. Idiotas sem vocação. Idiotas e burocratas chefiando e dirigindo faculdades, prisioneiros dos regulamentos e escravos do mercado. Idiotas que fazem do ensino e da educação mercadoria. Idiotas, travestidos de alunos, que agem como consumidores. Professores pretensiosos e acríticos, idiotas que pensam que ensinam, mas que, na verdade, precisam aprender.
Na sociedade encontramos muitos idiotas. Idiotas e ignorantes políticos que fizeram da truculência e da violência suas armas contra a legalidade democrática. Que não mediram esforços para ofender pessoas por pensarem diferente. Que, muito além da crítica, insultaram e agrediram políticos e artistas. Que ignoraram as diferenças. Que fizeram do ódio suas bandeiras. Que injuriaram, difamaram e caluniaram. Que escarneceram do outro. Que tolamente apostaram no quanto pior melhor. Imbecis fascistas que se alimentam do autoritarismo, do preconceito e da miséria alheia.
Infelizmente os idiotas estão em todas as partes. Prontos para vomitarem seus preconceitos, suas crueldades e suas imbecilidades. Para destilarem o veneno, o ódio e a cizânia.
Com tudo, os idiotas não venceram e não vencerão, afinal, eles são imbecis, ignorantes, tolos e pretensiosos. Bem que tentaram e continuarão tentando – posto que, como disse Albert Camus, “a estupidez insiste sempre” – se esforçaram e até assustaram, mas permanecerão vivendo no castelo da estupidez cercado pela ignorância.
–
Belo Horizonte, verão de 2015.
Leonardo Isaac Yarochewsky é Advogado e Professor de Direito Penal.