Netanyahu não pressionou Brasil o suficiente para que eu virasse embaixador, diz Dani Dayan

Até o momento, Brasil não disse se aceita ou não a indicação de Netanyahu, em movimento visto por Israel como de recusa de Brasília ao nome de Dayan

Por Opera Mundi

Dani Dayan, o indicado por Israel para ocupar a cadeira de embaixador do país em Brasília, criticou o premiê Benjamin Netanyahu, em entrevista na noite de sábado (26/12) ao jornal Haaretz, por não ter conseguido, até o momento, assumir o posto no Brasil.

Segundo ele, o primeiro-ministro, que acumula o cargo de ministro de Relações Exteriores, não pressionou o governo de Dilma Rousseff o suficiente. Até agora, o Brasil não enviou o agrément, documento que significa um “aceite” do novo embaixador, em um movimento que tem sido visto por Israel como de recusa de Brasília ao nome de Dayan. A chancelaria israelense disse que esperaria até o final de dezembro a recusa ou a aceitação formal do indicado.

“O Ministério de Relações Exteriores, incluindo o ministro, que é também premiê, acredita que, agora, a maneira de se lidar com a situação que se criou é usar uma política de esperar para ver”, afirmou Dayan ao Haaretz. Segundo ele, Tel Aviv age “como na famosa piada judaica, em que ou o cachorro ou o nobre irá morrer”. “Não excluo a possibilidade de que haja também esperança de que eu seja ou o cachorro, ou o nobre, e anuncie simplesmente que vou retirar minha candidatura e resolver o problema para eles”, diz.

A nomeação de Dayan foi anunciada publicamente pelo governo de Netanyahu no dia 6 de setembro, surpreendendo o governo brasileiro, já que a divulgação foi contrária às normas diplomáticas que exigem que tal pedido seja feito de forma sigilosa.

Assentamentos

Nascido em Buenos Aires e formado em Finanças, Dayan foi presidente do Conselho Yesha (2007-2013), órgão responsável por assentamentos judaicos na Cisjordânia que violam o direito internacional, bem como os acordos da ONU nos territórios palestinos, o que desagrada Brasília.

As importantes posições ocupadas por Dayan na representação de organismos de colonos na Cisjordânia e a sua indicação abrupta e extraoficial por parte de Netanyahu são os dois principais motivos pelos quais — especula-se — o Itamaraty ainda não se posicionou quanto à aceitação do pedido de “agrément”.

“Não sei se serei o embaixador no Brasil e, pessoalmente, não me importa muito”, disse o nomeado para o Haaretz. “Aliás, isso tornaria as coisas muito mais fáceis para mim [não ir para o Brasil], mas estou lutando pelo próximo embaixador que venha a ser um colono. Do ponto de vista de consciência e ideologia, não estou preparado para permitir que eu seja aquele que criou o precedente de que um residente da Judeia e da Samaria [a Cisjordânia] ou mesmo um presidente do Conselho Yesha não possa representar o governo de Israel lá fora.”

Já ao Canal 2, uma emissora de TV israelense, Dayan pediu que Netanyahu retaliasse firmemente a atitude do Brasil, segundo reportado pelo jornal Times of Israel, citando o caso da União Europeia, que passou a rotular produtos fabricados nos territórios ocupados como “produtos das colônias de Israel”. Em resposta, Tel Aviv suspendeu membros da UE das conversações de paz com palestinos.

Reações negativas

A indicação de Dayan para Brasília teve reação negativa de parte de políticos israelenses. Em entrevista em outubroOpera Mundi, Mossi Raz, ex-deputado do partido de esquerda Meretz e líder de uma coalizão de direitos humanos em Israel, criticou a nomeação.

“Ele [Dayan] era o líder de uma organização cuja essência violava o direito internacional. Se o Brasil aceitá-lo seria uma forma de reconhecer como legítimos esses assentamentos. O Brasil é um dos mais importantes e maiores Estados do mundo. Sua importância também advém do fato de que muitos palestinos e judeus vivem no Brasil”, afirmou Raz.

Em carta à presidente Dilma, o deputado Yousef Jabareen, da coalizão árabe-judaica de orientação socialista Joint List, pediu que não seja aceita a indicação de Tel Aviv. “Dayan tem repetidamente agido com desrespeito à lei e às normas internacionais, e tem liderado diversas iniciativas que violam diretamente os direitos fundamentais do povo palestino”, escreveu.

Movimentos sociais brasileiros também criticam a nomeação de Dayan em um manifesto assinado por mais de 30 organizações. Para Sérgio Storch, membro do Juprog (Judeus Brasileiros Progressistas), a nomeação de Dayan gerou uma queda de braço nos bastidores. “Netanyahu, astutamente, não consultou o governo brasileiro com o pedido de agrément que é convenção na diplomacia. Com isso, o Brasil pode dizer sim ou não, e ele pode vencer pelo desgaste e pelo cansaço”, argumentou.

Por sua vez, Pedro Charbel, coordenador latino-americano do Comitê Nacional Palestino de BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), declarou esperar que Dilma permaneça crítica à nomeação de Dayan. “Esperamos que a presidenta mantenha este posicionamento no caso de Israel seguir adiante com a indicação”, falou.

Na abertura da Assembleia Geral da ONU no fim de setembro, Dilma já havia reiterado que, assim como não se pode postergar a criação de um Estado palestino que coexista pacificamente com Israel, não se poderia mais permitir a expansão de assentamentos israelenses na Cisjordânia.

Destaque: Vista aérea de Modi’in Illit. Com cerca de 60 mil habitantes, a cidade é a maior colônia israelense no território ocupado da Cisjordânia. Fonte: Wikimedia. Autor: Dvirraz.

 

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