Em cerimônia realizada sábado, 12 de dezembro, o quilombo na Pedra do Sal na região do Porto comemorou dez anos de reconhecimento
Beth McLoughlin – RioOnWatch
A cerimônia, conhecida como Balaio das Yabás organizada pela Associação da Comunidade Remanescente do Quilombo da Pedra do Sal (ARQPEDRA), conhecida simplesmente como Quilombo da Pedra do Sal, começou com café da manhã e um ritual de candomblé no local histórico. Bateristas do grupo Filhos de Gandhi lideraram uma procissão de moradores e adeptos em torno do Cais do Valongo até a Praça Mauá.
As festividades vieram em um momento simbólico para a Pedra do Sal. Além do reconhecimento formal do Quilombo há dez anos pela Fundação Cultural Palmares, instituição do governo federal encarregada da preservação da cultura Afro-brasileira, o grupo também celebrou o 31º aniversário do reconhecimento da Pedra do Sal como monumento histórico e religioso pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (INEPAC) do Rio de Janeiro.
Esta área foi onde os africanos escravizados desembarcavam antes de serem negociados. Somente no Rio de Janeiro, dois milhões de escravos chegaram no país. A Pedra do Sal foi o lugar onde o sal e africanos eram negociados durante o brutal comércio de escravos brasileiro.
O local é conhecido como o berço do samba. Figuras do início da história do samba como Pixinguinha, João de Baiana, Donga e Sinhô compuseram e tocaram ali, um fato que foi reconhecido pelo projeto Sal do Samba do Quilombo da Pedra do Sal, em homenagem a história afro-cultural da região. Além da iniciativa do Quilombo, em reconhecimento a história, toda semana sambistas compõem uma roda de samba focada nos sambas tradicionais nas noites de segundas e sextas.
O Quilombo da Pedra do Sal em conjunto com o vizinho mercado de escravos Cais do Valongo e o Cemitério dos Pretos Novos–o maior cemitério de escravos da América– solicitaram que a região seja listada como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. A candidatura foi apresentada para a UNESCO pelo IPHAN. O resultado do pedido será anunciado em 2016.
A importância dessa área na região do Porto no Centro do Rio é cada vez mais reconhecida pelas autoridades e a comunidade internacional. Apenas nas horas da cerimônia de sábado, a Pedra do Sal foi visitada por quatro diferentes grupos de turismo, totalizando cerca de 100 pessoas, uma combinação de grupos turísticos estrangeiros e locais.
No entanto, para a comunidade que vive lá, mais poderia ser feito, já que a zona portuária está passando por um ambicioso programa de regeneração antes dos Jogos Olímpicos do ano que vem, que incluiu a reabertura da própria Praça Mauá e investimentos de grandes empresas na área.
“Nós estamos exigindo uma política pública do Estado brasileiro”, disse Damião Braga, presidente do ARQPEDRA. “A lei diz que é responsabilidade do Estado preservar o patrimônio da região, mas eles não fizeram nada, além de colocar uma placa dizendo ‘Pedra do Sal’. Nós vemos isso como racismo institucional”.
O evento de sábado foi uma prova do quão forte a comunidade e seu senso de identidade têm sobrevivido apesar de uma história de apoio oficial desprezível.