Como instrumento de diálogo com a sociedade, foi lançada a “Carta Política da Juventude Camponesa da Bahia”, que sistematizou os debates e afirmou posicionamentos políticos
Por Coletivo de Comunicação do MST na Bahia
Jovens militantes ligados à vários movimentos sociais do campo e da cidade realizaram entre os dias 11 e 13 de dezembro, em Boa Nova, o 10º Encontro Estadual da Pastoral da Juventude Rural da Bahia.
A juventude discutiu a conjuntura, avaliou a caminhada das lutas populares e planejou atividades para o próximo ano.
Como instrumento de diálogo com a sociedade e com outras organizações foi construída uma “Carta Política da Juventude Camponesa da Bahia”, que sistematizou os debates e afirmou posicionamentos políticos da juventude diante do atual cenário político.
Joabes Casaldáliga, da coordenação estadual da Pastoral da Juventude Rural (PJR), disse que o encontro possibilitou construir linhas unitárias entre os movimentos e reafirmou a luta contra os setores conservadores e golpistas que estão no Governo.
“Estes posicionamentos reacionários criminalizam as lutas dos movimentos sociais e deslegitimam as políticas públicas conquistadas pela classe trabalhadora. Dizemos não ao golpe e fora Cunha”, destacou Joabes.
Diversas discussões foram construídas para alinhar o debate. Exemplo disso, são os painéis e as rodas de conversas que trouxeram como temas centrais: a formação, o trabalho de base e a realidade da juventude do campo.
Leia abaixo a Carta Política da Juventude Camponesa da Bahia:
X Encontro Estadual da Pastoral da Juventude Rural da Bahia
11, 12 e 13 de dezembro de 2015, Boa Nova – BA.
Somos jovens camponeses de comunidades rurais, assentamentos, quilombos, fundos e fechos de pasto dos diversos cantos da Bahia. Estamos organizados na Pastoral da Juventude Rural e em dezembro de 2015 estivemos reunidos com cerca de 150 jovens em nosso X Encontro Estadual, desenvolvendo estudo, debate, formação e organização.
Demarcamos nosso campo político na luta pela permanência da juventude no campo, nosso local de vida, trabalho, educação e cultura. Nossa identidade é camponesa, somos do campo e defendemos o bem viver no campo. Nossa resistência se dá pela construção de uma agricultura camponesa agroecológica e soberana, que produza condições de geração de renda através de trabalho cooperativo, desenvolvendo a igualdade de gênero, a valorização do conhecimento camponês assim como a soberania alimentar e territorial das comunidades rurais.
Em contínuo esforço de estudo para qualificar nossas ações reconhecemos a necessidade de compreender a realidade brasileira desde as nossas bases até os processos conjunturais que passam nossa nação, para assim guiar nosso fazer político e unir esforços como Igreja em missão aos demais movimentos sociais do campo e da cidade na luta pela transformação das condições de vida da classe trabalhadora.
Em nosso Encontro Estadual, através do estudo e debates chegamos à conclusão que:
• O modo de produção capitalista passa por uma grave crise. Em momentos de crise, o capital busca mecanismos para aumentar a exploração sobre a classe trabalhadora, retirando direitos trabalhistas e aumentando o grau de exploração. A crise do capital torna-se mais grave nos países periféricos como o nosso;
• Nos governos do PT (2012-2015) houve um conjunto de ações que retiraram os trabalhadores mais pobres da miséria. No período posterior, a disputa girou em torno da retomada das políticas neoliberais ou a continuidade das políticas sociais com redistribuição de renda. A vitória de Dilma sinalizava a continuidade destas políticas sociais, contudo as medidas econômicas do novo governo, na prática, estão implementando o projeto neoliberal derrotado nas urnas. Por isso, faz-se necessário que o governo Dilma rompa com a atual política econômica;
• Porém, a maior crise atual do país é a crise política, levada a cabo por setores derrotados nas últimas eleições, que agora, aliados aos grandes meios de comunicação de massa e ocupando bancadas significativas no congresso, implementam inúmeras pautas retrógradas que atacam o povo brasileiro, desestabilizam a vida política e recentemente tentam aplicar um golpe institucional na presidência em forma de impeachment;
Por meio desta compreensão manifestamos nossa posição política:
• Nos posicionamos contra a tentativa de impeachment da presidenta Dilma, pela defesa da democracia e continuidade do governo eleito nas urnas;
• Exigimos a imediata destituição do cargo de presidência da câmara dos deputados e a cassação do político Eduardo Cunha, líder do conjunto de políticos corruptos no congresso e inimigo do povo brasileiro;
• Somos contra o modo de funcionamento do sistema político atual, somamos esforços na luta pelo fim do financiamento privado de campanha que dá acesso irrestrito aos interesses da elite rentista e do empresariado no fazer político da nação. Reconhecemos a urgente necessidade de uma reforma do sistema político por meio de uma constituinte exclusiva, popular e soberana;
• Nos movimentamos contra o modelo de desenvolvimento capitalista no campo, implementado por empreendimentos do agronegócio, mineração e agrohidroenergia que expropria territórios, extrai recursos naturais de modo inconsequente e gera externalidades que impactam de maneira irreversível os solos, as águas e a atmosfera, destruindo as condições de vida do povo do campo e da cidade;
• Lutamos contra o latifúndio, por uma reforma agrária popular que proporcione acesso à terra à quem deseja produzir alimentos saudáveis para a nação;
• Exigimos o avanço de políticas públicas que gerem transformações estruturais no campo, produzindo condições de subsistência das comunidades camponesas e seus modos de vida e desenvolvimento. Exigimos o avanço das políticas de convivência com o semiárido;
• Repudiamos a política de fechamento das escolas no campo e na cidade, e a precarização da educação pública em todos os níveis. Repudiamos a política implementada pelo governo para a educação rural. Exigimos a implementação da política de educação do campo conquistada na lei pelos movimentos sociais e a construção de uma educação adequada às especificidades do campo, proporcionando acesso e permanência da juventude à formação em nível médio, técnico e superior de qualidade;
• Repudiamos as práticas de violência e extermínio da juventude, a repressão às manifestações juvenis e toda e qualquer forma de preconceito de gênero, cor, etnia e orientação sexual. Nos posicionamos contra as tentativas de redução da maioridade penal por setores conservadores do congresso;
• Exigimos a imediata implementação de políticas públicas voltadas para a permanência do jovem no campo e melhoria das condições de vida, estruturando formas de trabalho-renda, educação, lazer, transporte, acesso à informação e cultura;
Diante das questões colocadas, construímos nossa luta a partir das bases da Igreja, compreendendo a tarefa deixada pelo camponês de Nazaré, Jesus Cristo, de construir o projeto do reino de Deus na terra, lutando contra as diferentes formas de opressão e tomando a posição em favor dos empobrecidos e injustiçados desta sociedade.
Assim como tem instruído nossa liderança maior, o Papa Francisco, devemos nos movimentar contra o modo de produção capitalista que tem destruído a obra de Deus: a mãe terra e sua criação. Temos a convicção de que todos os homens e mulheres são iguais perante Deus e, portanto, têm direito à uma vida plena e digna, como o próprio Papa nos diz: “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos”.
Fora Cunha!
Juventude Camponesa! Terra, pão, dignidade!