Por Alana Gandra, da Agência Brasil
O projeto Ar, Água e Terra: Vida e Cultura Guarani completa quatro anos com o balanço de 50 mil mudas de espécies nativas da Mata Atlântica plantadas, que recuperaram a biodiversidade de nove aldeias guaranis, no Rio Grande do Sul, beneficiando 437 indígenas.
“Com essas nove aldeias, trabalhamos o viveirismo, que envolve intercâmbio de sementes e mudas, entre as aldeias, e aquisição de mudas. Levantamos 90 espécies principais usadas na medicina, no artesanato, na confecção de casas, na alimentação. Com elas, a gente recuperou mais de 70 hectares. Reconvertemos mais de 30 hectares de agroflorestas, roças tradicionais, com alimentos, frutas nativas”, disse Denise Wolf, presidenta da organização não governamental (ONG) Instituto de Estudos Culturais e Ambientais (Iecam), responsável pela execução do projeto.
Ao longo desses quatro anos, o projeto promoveu mais de 90 atividades de educação ambiental, oficinas, reuniões entre as aldeias e equipes técnicas indígenas e não indígenas. “É um balanço bem positivo. Muito trabalho”, comentou a presidenta da ONG.
O projeto mapeou até agora mais de 3 mil hectares do território guarani, somando as nove aldeias pesquisadas. O plantio das mudas nativas contribuiu para reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE). “Nós zeramos, e ficamos com um saldo positivo de mais de 37 mil toneladas de gás carbônico (CO2)”.
O projeto foi certificado com o selo Emissão Zero ou Carbono Zero. Não há interesse, porém, de colocar esse saldo no mercado de crédito de carbono, assegurou Denise. “Nós quisermos inventariar para saber o que a gente emite e o que as nossas ações captam das emissões de gases.”
O instituto está, no momento, concluindo a segunda fase do projeto. Foi ampliado o primeiro viveiro de mudas e construído um segundo viveiro, onde estão cultivadas 20 mil mudas de plantas da Mata Atlântica.
“A continuidade do projeto depende de renovação do patrocínio do Programa Petrobras Socioambiental”, disse Denise. Segundo ela, há mais aldeias guaranis interessadas em participar das ações, nos estados de Santa Catarina e Paraná. “A nossa ideia agora é sair de um projeto estadual para um regional, para ter mais intercâmbio entre as aldeias em toda a Região Sul, tanto para a troca de mudas e sementes, saberes, encontros, educação ambiental, todas as atividades. Queremos engajar outras aldeias no projeto”.
No Rio Grande do Sul, existem atualmente 25 aldeias guaranis, e, incluindo os acampamentos, o número passa para 40, segundo afirmou. Considerando o litoral do Rio Grande do Sul até o Espírito Santo, o número de aldeias guaranis ultrapassa 100.
Esse é o primeiro grande projeto da ONG na área ambiental, disse, uma vez que os guaranis conservam intacto mais de 90% do seu território. “Tirando a área onde eles constroem as habitações e as roças familiares, eles preservam as florestas. E sabem quando coletar as sementes, quando podem pegar determinado ramo de árvore para fazer uma peça artesanal. Eles têm um domínio sobre o ambiente natural, porque tudo é sagrado para eles. A relação é muito respeitosa com o ambiente natural”. Esse é um legado positivo que fica para todas as outras gerações, indicou Denise.
Os guaranis vivem das culturas de subsistência, da pesca e do artesanato. Mais de 2 mil estudantes e professores da rede pública de ensino do entorno, além de 3 mil visitantes, foram beneficiados pelas ações de educação ambiental do projeto.
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Índios participam do projeto Ar, Água e Terra, no Rio Grande do Sul, que recuperou a biodiversidade de aldeias guaranis. Foto: Denise Wolf/ divulgação do Acervo Iecam / Agência Petrobras