As Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida do Regional Centro Oeste/RCO (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bolívia) divulgaram, neste final de semana, uma carta de apoio e solidariedade ao Cimi e aos povos indígenas do Mato Grosso do Sul (MS).
No documento, as irmãs lamentam que o trabalho do Cimi junto aos povos indígenas “seja interpretado de forma pejorativa e com tentativa de criminalização de seus membros através de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa do estado de Mato Grosso do Sul”.
A CPI em questão faz parte da estratégia de ataques ruralistas aos povos indígenas e seus aliados. Proposta pela fazendeira e deputada estadual Mara Caseiro (PTdoB) e subscrita por outros fazendeiros deputados, a Comissão foi criada em 18 de setembro deste ano.
No Mato Grosso do Sul, uma parte dos fazendeiros e seus jagunços tem atuado através de milícias armadas que tem feito ataques paramilitares contra o povo Guarani Kaiowá. Em agosto, o líder Guarani e Kaiowá, Semião Vilhalva, foi assassinato, três indígenas foram baleados por arma de fogo, vários foram feridos por balas de borracha e dezenas de indígenas foram espancados. São fortes também os indícios de que indígenas sofreram tortura e há denúncias da ocorrência de um estupro coletivo contra uma Guarani Kaiowá.
Nos últimos 12 anos, ao menos 585 indígenas cometeram suicídio e outros 390 foram assassinados no Mato Grosso do Sul. O estado tem 23 milhões de bovinos que ocupam aproximadamente 23 milhões de hectares de terra. Enquanto isso, com os procedimentos de demarcação paralisados, os cerca de 45 mil Guarani Kaiowá continuam espremidos em apenas 30 mil hectares de suas terras tradicionais.
Leia a carta na íntegra:
Carta de apoio e solidariedade ao Cimi e aos povos indígenas de Mato Grosso do Sul
Nós, Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora A parecida do Regional Centro Oeste /RCO (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Bolívia ), reunidas em assembleia dos dias 10 a 13 de dezembro do corrente ano, vimos por meio desta manifestar nossa solidariedade e total apoio ao Cimi (Conselho Indigenista Missionário) do Mato Grosso do Sul, que vem sofrendo constante retaliação e intimidação.
Este organismo da Igreja Católica tem realizado um trabalho missionário de fundamental importância junto aos povos Indígenas a mais de 40 anos. Tem como objetivo Evangelizar de forma inculturada respeitando suas formas de organização, suas crenças, costumes e sobre tudo seu protagonismo; apoiar as comunidades Indígenas, de modo especial aquelas que buscam o direito de viver com dignidade em suas terras tradicionais. No Mato Grosso do Sul são 37 anos de serviços à vida dessas comunidades.
Lamentamos que este trabalho seja interpretado de forma pejorativa e com tentativa de criminalização de seus membros através de uma CPI(Comissão Parlamentar de Inquérito) na Assembleia Legislativa do estado de Mato Grosso do Sul.
Que o Deus da vida e da esperança continue fortalecendo, encorajando, animando e protegendo suas lutas em busca do bem viver tão sonhado. “Que nossas mãos apertem as suas mãos e estreitemo-los a nós para que sintam o calor de nossa presença, da amizade e da fraternidade, pois vimos suas misérias e escutamos o seu grito de ajuda.
Que o seu grito se torne o nosso grito e junto possamos romper a barreira de diferença que frequentemente reina soberana para esconder a hipocrisia e o egoísmo”(Cf.Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia
nº15).
Contem com nosso apoio e orações
Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora Aparecida
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RCO Campo Grande, 13 Dezembro de 2015.