O Instituto Avon, em parceria com o Data Popular, divulgou os resultados da pesquisa inédita Instituto Avon/Data Popular- Violência contra a mulher no ambiente universitário (acesse aqui), realizada ao longo de setembro e outubro deste ano com universitários de cursos de graduação e pós-graduação de instituições públicas e privadas.
O levantamento contou com uma fase quantitativa, online, com 1.823 estudantes de todo o país, e uma qualitativa, com grupos de discussão envolvendo participantes de ambos os sexos e entrevistas em profundidade com especialistas*. Além disso, a pesquisa envolveu a abertura de espaço para os universitários deixarem depoimentos pessoais sobre o tema.
“Ao abordar a violência contra a mulher no ambiente universitário, o Instituto Avon busca investigar a percepção e o comportamento dos jovens que estarão, em breve, na liderança do país, bem como estimular a percepção acerca da necessidade de transformação cultural, igualdade de gênero e respeito incondicional”, afirma David Legher, presidente da Avon Brasil.
Um dos principais pontos identificados pelo estudo é o fato de ambiente universitário, que deveria ser apenas de interação e educação, também ser espaço de medo para as mulheres. Entre as entrevistadas, 42% afirmaram que já sentiram medo de sofrer algum tipo de violência no ambiente universitário e 36% já deixaram de fazer alguma atividade por causa desse medo. Isso porque têm a percepção de que não apenas criminosos externos, mas também colegas, professores, parceiros do cotidiano, podem ser protagonistas de violências que vão da desqualificação intelectual ao assédio moral e sexual, chegando até ao estupro.
“A violência contra a mulher também está se perpetuando no ambiente universitário, e isso está impactando a vida de jovens que lutaram para entrar em uma faculdade e acreditaram que estariam em um ambiente acolhedor, por parte de todos”, avaliaAlessandra Ginante, Presidente do Conselho do Instituto Avon. “Uma das ações mais efetivas que podemos colocar em prática para enfrentar esse problema é esclarecer quais são os comportamentos que muitos não reconhecem como violência, apesar de ser, que estão intimidando, humilhando e agredindo essa jovem física e psicologicamente. ”
A percepção do que é violência contra a mulher é de fato muito restrita entre os universitários. As discussões com grupos de universitários mostraram que, em geral, as meninas começam a ter uma visão mais ampla e a não se sentir confortável com violências menos clássicas, como as piadinhas, os rankings de beleza, os leilões, as músicas ofensivas. Mas a maioria dos rapazes ainda resiste a ver situações como essa como violência.
Um exemplo disso é o fato de que alguns deles, e até delas, consideram que o simples fato de uma garota ir a uma festa que inclui bebidas e drogas indica que ela está disponível para violências sexuais diversas. Exemplo disso é o fato de 27% dos alunos do sexo masculino não considerarem violência o fato de abusar de uma garota se ela estiver alcoolizada. Ou ainda 35% também não considerar violência coagir uma mulher a participar de atividades degradantes como desfiles e leilões.
Prova disso é o fato de que, espontaneamente, apenas 10% das alunas admitem ter sofrido violência. Mas quando apresentadas aos comportamentos listados por especialistas como violência contra a mulher*, esse número sobe expressivamente para 67%. Entre os rapazes, vai de 2% para 38%.
“A pesquisa comprovou que a insegurança que as alunas sentem é totalmente justificada”, explica Renato Meirelles, presidente do Data Popular. “Dois terços das alunas já passaram pessoalmente por algum episódio de violência de gênero na universidade. E vimos que essa violência assume características muito próprias na universidade, com situações específicas que causam grande constrangimento: a desqualificação intelectual de mulheres em cursos considerados masculinos, os “desfiles e leilões” com conotação sexual que muitas calouras são obrigadas a participar nos trotes, o assédio sexual de professores. A violência contra a mulher está presente em toda a sociedade, mas assume formas específicas na universidade”
O levantamento mostra também que, embora um número significativo de mulheres tenha relatado ter sofrido algum tipo de violência no ambiente universitário, a maioria não se sente segura ou incentivada a tomar alguma providência: 63% admitem não ter reagido quando sofreram algum tipo de violência.
Entre os entrevistados, 64% dos homens e 78% das mulheres concordam que o tema violência contra a mulher deveria ser incluído nas aulas. Eles acreditam também que a faculdade deveria criar meios de punir os responsáveis por cometer violência contra mulheres na instituição: 88% dos alunos e 95% das alunas são desta opinião.
A pesquisa “Violência contra a mulher no ambiente universitário” foi apresentada durante a terceira edição do Fórum Fale Sem Medo, evento aberto ao público, realizado na capital paulista, que integra as iniciativas do Instituto Avon para fortalecer o movimento 16 Dias de Ativismo pelo Fim da Violência contra as Mulheres.
*ESPECIALISTAS ENTREVISTADOS
Heloísa Buarque de Almeida: Professora do Departamento de Antropologia Social da USP, especialista em gênero
Jacira Melo: Diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão- Mídia e Direitos
Maria Gabriela Manssur: Promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Coordenadora do Núcleo de Combate à Violência contra a Mulher
Marina Braga: Líder da Frente Feminista Casperiana Lisandra (Coletivo feminista da Faculdade Cásper Líbero)
Sérgio Barbosa: Filósofo e Coordenador do Programa de Responsabilização de Homens Autores de Violência contra a Mulher do Coletivo Feminista Sexualidade e Saúde
Sílvia Chakian Promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo. Coordenadora do Grupo de Atuação Especial de Enfrentamento à Violência Doméstica (Gevid)
**LISTA DE VIOLÊNCIAS
Para esta pesquisa, foram definidos tipos de violência contra a mulher que vão além da violência física e sexual, que são as mais evidentes. Consultando especialistas, coletivos feministas e estudantes que vivenciam o cotidiano das universidades, chegou-se a seis grupos de violências:
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Assédio Sexual – Comentários com apelos sexuais indesejados; cantada ofensiva; abordagem agressiva;
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Coerção – Ingestão forçada de bebida alcoólica e/ou drogas; ser drogada sem conhecimento; ser forçada a participar em atividades degradantes (como leilões e desfiles);
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Violência Sexual – Estupro; tentativa de abuso enquanto sob efeito de álcool; ser tocada sem consentimento; ser forçada a beijar veterano;
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Violência Física – Sofrer agressão física;
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Desqualificação Intelectual – Desqualificação ou piadas ofensivas, ambos por ser mulher
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Agressão Moral/Psicológica – Humilhação por professores e alunos; ofensa ou xingamento por rejeitar investida; músicas ofensivas cantadas por torcidas acadêmicas; imagens repassadas sem autorização; Rankings (beleza, sexuais e outros) sem autorização.
Fale Sem Medo – Não à Violência Doméstica
A pesquisa faz parte da campanha Fale sem Medo – Não à Violência Doméstica, do Instituto Avon, que colabora com projetos para o combate à violência desde 2008. A campanha visa contribuir para a educação, conscientização e reflexão para a prevenção e o combate da violência doméstica no país. O Instituto Avon já direcionou R$ 10 milhões para a causa. Em 2012, a Avon se tornou a primeira empresa a anunciar oficialmente apoio à campanha Compromisso e Atitude – a Lei é mais forte, coordenada pela Secretaria de Políticas para as Mulheres do Distrito Federal (SPM-DF), comprometendo-se a reforçar as ações de divulgação da Lei Maria da Penha por meio de sua rede de revendedores, além de atuar em parceria com a SPM-DF em outros projetos voltados para esta causa. A campanha Fale Sem Medo do Instituto Avon se soma à campanha global Speak Out Against Domestic Violence coordenada pela Avon Foundation For Women, que já direcionou mais de US$ 50 milhões para a causa em mais de 50 países.