Hoje (08/12) ativistas e integrantes da equipe da Anistia Internacional Brasil protocolaram na sede do governo do Rio de Janeiro, a entrega de 61 mil assinaturas endereçadas ao governador Luiz Fernando Pezão pedindo o fim das execuções praticadas pela polícia e a investigação dos homicídios decorrentes de intervenção policial no Estado. Apesar de ter solicitado a audiência no início de novembro, a organização não foi recebida pelo governador.
“Não é admissível que um estado como o Rio de Janeiro mate mais de 8 mil pessoas em decorrência de operações policiais em um período de 10 anos. É tão absurdo que estas mortes totalizam em média 16% do total de homicídios registrados na cidade. E quem morre não é somente o jovem, pobre e negro, o número de policiais mortos também tem aumentado. O estado e a nossa sociedade estão criando uma espécie de aniquilação da vida em decorrência dessa política de segurança pública baseada na lógica da guerra e do confronto. É como se tivéssemos vidas descartáveis – a vida do jovem, do negro, do pobre e até do PM. Queremos pedir ao governador que assuma a liderança na mudança da lógica dessa guerra, levando garantia da vida e segurança”, disse Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional Brasil.
Cerca de 20 ativistas participaram da ação, posicionados no canteiro central da Rua Pinheiro Machado, ao lado de placas com as principais mensagens da campanha: “Diga não à execução”, “Direito à Vida” e “Jovem Negro Vivo”. Uma cópia da petição também será protocolada na sede do Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro na tarde desta terça-feira (8).
A Campanha
Nos últimos meses, milhares de pessoas de todo o Brasil e de outros países em que a Anistia Internacional atua, como, Suíça, Espanha, Bélgica, Portugal e Estados Unidos, se mobilizaram nas redes e nas ruas. A campanha #DigaNãoàExecução foi lançada em agosto, junto com o relatório “Você matou meu filho – Homicídios cometidos pela Polícia Militar na cidade do Rio de Janeiro”. O documento detalha casos em que a Polícia Militar faz uso excessivo e arbitrário da força, ameaças a defensores de direitos humanos e moradores de favelas, invasões ilegais de domicílio, furtos, agressões físicas e execuções extrajudiciais reportadas como “autos de resistência”. Tragédias recentes, com o dos cinco jovens fuzilados dentro de um automóvel em Costa Barros, no final de novembro, mostram que a cultura da execução persiste dentro da polícia carioca. Entre 2014 e 2015, mais de 1000 pessoas foram mortas pela polícia do Estado do Rio de Janeiro.
Teste do Pezão
Nos últimos dias, a Anistia Internacional divulgou o quizz TestedoPezao.tumblr.com, cujo endereço foi adesivado em diversos pontos da capital para interagir com a população e mostrar como o governador tem se posicionado nos casos recentes e notórios de homicídios cometidos pela polícia em serviço.
Desde o lançamento da campanha Diga Não à Execução, em agosto de 2015, alguns resultados positivos já foram alcançados pela mobilização: o anúncio da chefia da Polícia Civil de que os homicídios cometidos por policiais no Rio de Janeiro serão investigados pela Delegacia de Homicídios, a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre autos de resistência na Assembleia Legislativa (ALERJ) e a apuração do Ministério Público sobre o caso do menino Eduardo de Jesus, morto por policiais na porta de casa no dia 2 de abril de 2015 no Complexo do Alemão, que acabou por denunciar os policiais envolvidos na operação, diferente da conclusão do inquérito policial que justificou a ação como legítima defesa.
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Imagem: Atila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional Brasil, e ativistas em frente ao Palácio da Guanabara. | ©Lucas Jatobá