Na noite da última quarta-feira (02/12), indígenas Gamela sofreram um atentado a tiros em uma área tradicional retomada no Maranhão. Segundo relato de indígenas que estavam no local, homens em uma caminhonete dispararam vários tiros contra o acampamento da retomada. Ninguém foi atingido, mas o clima entre os indígenas é de tensão e insegurança.
Entre segunda e terça-feira, os indígenas do povo Gamela retomaram duas fazendas que incidem sobre seu território tradicional no Maranhão, e as quais são denunciadas por eles como terras griladas. Desde então, os indígenas vem sofrendo diversas ameaças dos fazendeiros dessas áreas. Na terça à noite, quatro carros estranhos começaram a rondar o acampamento da retomada.
Na noite de quarta-feira (02/12), por volta de 22h da noite, uma das caminhonetes que rondava o acampamento indígena parou junto à porteira de uma fazenda vizinha. Homens desceram dela e começaram a atirar contra os indígenas. Segundo uma liderança Gamela, não identificada por questões de segurança, os indígenas, entre adultos e crianças, correram para se esconder atrás de uma pequena área com mato, enquanto os homens seguiam atirando.
Segundo a liderança ouvida pela reportagem, os Gamela na área retomada já temiam que um ataque fosse acontecer, em função das ameaças feitas pelos fazendeiros e da presença dos carros estranhos rondando a região. Indígenas Gamela que não estão participando diretamente da retomada também têm recebido ameaças em suas casas, e três carros estranhos continuam rondando o acampamento.
Hoje pela tarde, indígenas registraram dois Boletins de Ocorrência na delegacia do município de Viana, referentes às ameaças e ao atentado sofrido. Os Gamela conseguiram registrar a placa do veículo em que estavam os homens que efetuaram os disparos e descobriram que se tratava, na verdade, de uma placa clonada.
Também hoje à tarde, ocorreu uma reunião ampla que contou com a presença das Secretarias de Direitos Humanos e Participação Popular, de Meio Ambiente e de Segurança Pública do estado do Maranhão, da Fundação Nacional do Índio (Funai), do Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma) e de diversos movimentos sociais apoiadores dos Gamela, além dos próprios indígenas.
Na reunião, a Secretaria de Direitos Humanos reconheceu o indiscutível direito à terra dos Gamela, e a Secretaria de Segurança Pública comprometeu-se a investigar a questão dos carros com placas clonadas e a garantir uma ronda policial constante na área para evitar novos ataques contra os indígenas.
No próximo sábado, uma comitiva deve ir à área retomada para acompanhar a situação e prestar apoio e solidariedade aos Gamela.
Atualmente, mais de 700 famílias do povo Gamela vivem numa área de apenas 530 hectares, sem espaço para praticar agricultura e, ainda, sofrendo com a grilagem e a destruição de árvores e plantas importantes para sua sobrevivência, como é o caso dos açaizais, utilizados para alimentação, e dos guarimãs, cuja palha é utilizada para confecção de artesanatos. Segundo os indígenas, a destruição destas culturas ocorre também de forma criminosa, com a intenção de retirar sua autonomia e seus meios de sobrevivência.
As fazendas retomadas somam cerca de 300 hectares e fazem parte do território tradicional reivindicado pelos indígenas, o qual totaliza aproximadamente 14 mil hectares. Os indígenas reivindicam a demarcação do território que já lhes havia sido cedido pelo Estado em 1759, ainda no período colonial do Brasil. O processo demarcatório ainda não foi aberto pela Funai.
—
Foto: Rosimeire Diniz, Cimi Regional MA