O MST tentou negociar um prazo maior para a saída das famílias da área, até a próxima segunda-feira (04), mas não houve acordo e sensibilidade por parte do judiciário.
Na manhã dessa quarta-feira (29), um efetivo de cerca de 500 integrantes da Brigada Militar (BM), 60 cavalos e um helicóptero iniciou o despejo das 1.500 famílias do MST, que ocupavam há duas semanas a fazenda dos Guerra (também conhecida como Santo Antônio), em Tapes, na região Sul do RS.
O MST tentou negociar um prazo maior para a saída das famílias da área, até a próxima segunda-feira (04), mas não houve acordo e sensibilidade por parte do judiciário.
Segundo o dirigente nacional do MST no RS, Cedenir de Oliveira, o despejo não representa um retrocesso para os Sem Terra.
“Vamos continuar mobilizados e seguir firmes na luta pela terra, denunciando o latifúndio e exigindo o assentamento das cerca de 2 mil famílias Sem Terra que seguem acampadas no Rio Grande do Sul”, argumenta.
As famílias estão sendo identificadas pela BM e seguem em caminhada por 35 quilômetros até o assentamento Hugo Chávez Frias, que produz arroz agroecológico em Tapes. Lá, os Sem Terra permanecerão acampados à espera de outra área para o assentamento.
A ocupação do latifúndio faz parte da Jornada Nacional de Lutas do MST pela Reforma Agrária.
O MST denuncia o monocultivo de pinus, que não cumpre a função social de produção na área e reivindica a desapropriação do latifúndio de 7,2 mil hectares para a produção agroecológica, sem veneno, preservando a biodiversidade da região da Lagoa dos Patos.
A presidente do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), Lúcia de Oliveira Falcón, anunciou que no próximo domingo (3) estará em Porto Alegre para discutir a situação dos Sem Terra e retomar o processo de desapropriação de terra no estado.
Crime ambiental e grilagem
Em audiência pública na semana passada, a empresa Pinvest Pinheirais Gaúchos foi denunciada por crime ambiental e grilagem de terra.
O ambientalista Rafael Fernandes, do Movimento Os Verdes, apresentou um dossiê comprovando que a empresa não possui licenças ambientais para o plantio de monocultura de pinus na área, que se estende até as margens da Lagoa dos Patos.
Os proprietários também são acusados de expulsar várias famílias de posseiros da área ao longo dos anos.
Zeferino de Aguiar Neto conta que sua família foi expulsa da fazenda e passou a morar na beira da estrada que liga Tapes a Barra do Ribeiro. “Meu bisavô era dono das terras, mataram ele na fazenda e meu avô ficou tomando conta, mas foram nos apertando até que saímos”, conta.
A família de Aguiar plantava alimentos de subsistência na área hoje tomada pelo pinus.
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Foto: Leandro Molina.