Durante dois dias, cerca de 300 camponesas de diversos movimentos sociais da América Latina participam da 5° Assembleia das Mulheres da Cloc
Da Cloc – Via Campesina / MST
“Somos 70% da população mundial e somos as primeiras produtoras de alimentos do planeta. Temos que saber disso, companheiras.” Com estas palavras, a zimbabuense Elizabeth Mpofu, da Secretaria política da Via Campesina Internacional, deu as boas vindas às centenas de mulheres camponesas que participam da 5° Assembleia das Mulheres da Coordenação Latinoamericana das Organizações do Campo (Cloc), na cidade de Buenos Aires, na Argentina.
Com uma história carregada de repressão e agressões por ser mulher, Elizabeth não pôde estudar, já que “sempre tinha que estar fazendo minhas tarefas de casa, e não podia me juntar com outras mulheres. Esta seguramente é a história de muitas das que estão aqui”.
Durante dois dias, cerca de 300 camponesas de diversos movimentos sociais do campo de toda a América Latina trazem o lema “Sem Feminismo não há Socialismo”, e debatem os desafios das mulheres camponesas frente ao agronegócio e a luta contra o sistema patriarcal.
Desde o 3° Congresso da Cloc as mulheres começaram a exigir que este espaço também expressasse a luta cotidiana e particular das camponesas. Ao estarem à frente da luta em seus territórios, também era preciso de um espaço autorganizado para que se encontrassem e debatessem suas especificidades.
“Também estamos aqui para conduzir e dizer que não temos apenas tetas, mas cabeça e força para conduzir o que queremos”, enfatizou a argentina Deolinda Carrizo, do Movimiento Nacional Campesino Indígena (MNCI)
Para ela, as mulheres não são apenas “cotas, somos também sujeitos dessa sociedade que queremos transformar e que estamos construindo; justa para todos e todas.”
Capitalismo e patriarcado
A naturalização entre o que é ser mulher e o que é ser homem seria a primeira coisa a se perguntar quando se fala sobre o tema do capitalismo e patriarcado, segundo Nalu Faria, da Marcha Mundial das Mulheres.
“Houve uma construção histórica, o que vivemos como desigualdade, como subordinação, como violência sobre as mulheres é parte da história de como as relações foram sendo construídas, por isso elas são passíveis de mudança”, acredita.
Como exemplo, Nalu trabalha a questão da maternidade. Segundo ela, por mais que seja algo que a maioria das mulheres desejem, nem todas querem ser mães. Porém, a sociedade vive afirmando a necessidade das mulheres serem mães, mas quando recusam a maternidade, dizem que algo está errado.
Outro ponto que destaca é a naturalização de que a mulher não gosta de participar de espaços políticos. “Fomos descobrindo justamente o contrário, que as mulheres estão presentes e estiveram presentes em todas as lutas dos povos. E muitas vezes quando as mulheres não se fazem presentes, não é porque não querem, mas porque de alguma maneira são impedidas de participar”.
Para ela, o capitalismo aprofundou esta divisão do trabalho, por isso sem o desmantelamento do patriarcado não é possível acabar com o capitalismo, já que o atual sistema “não está estruturado apenas numa divisão social do trabalho, mas também numa divisão sexual do trabalho”.
A 5° Assembleia das Mulheres da Cloc segue nesta segunda-feira (13). No dia seguinte, cerca de mil delegados de diversos movimentos sociais do campo da América Latina realizam a abertura do 6° Congresso Continental da Cloc, que será finalizado na próxima sexta-feira (17).
–
Foto: A argentina Deolinda Carrizo, do Movimiento Nacional Campesino Indígena (MNCI)