Segundo presidente do Codema de São Francisco, motivo seria aumento de cianobactérias decorrentes da poluição da água juntamente com o baixo nível da água
José Vítor Camilo – O Tempo
Dono há 25 anos de um rancho na cidade de São Francisco, no Norte do Estado, o comerciante Benedito Hermenegildo Moreira, de 49 anos, o Gildo, se assustou com a situação do Velho Chico neste fim de semana. Com o nível muito baixo, o rio já não serve como meio de transporte para muitos barcos e impurezas matam peixes e assustam os pescadores, principais turistas da região.
“Nunca tinha visto ele nesse estado. Cada ano que passa o rio está pior. Achei inclusive um surubim de uns 40 Kg morto na margem, sem falar nos vários outros que vimos descendo no leito do rio”, relatou o comerciante, que também é pescador. Assustado, ele resolveu fazer fotos e divulgar, com o objetivo de pressionar as autoridades a tomarem medidas para salvar o principal rio de Minas Gerais.
As imagens foram feitas na região conhecida como Barreira dos Índios, a cerca de 23 km de São Francisco. “O nível está muito baixo, muito assoreado. Até mesmo o pessoal que fiscaliza o meio ambiente encontra dificuldade para percorrer o rio e analisar a situação. O problema dos peixes é que as matrizes, que fazem a manutenção dos peixes da região, estão morrendo e a população vai só diminuindo. Estão dizimando os peixes”, contou Gildo.
O problema principal não é para os turistas, mas sim para quem vive na cidade e depende tanto do turismo como da pesca de subsistência. É o caso de João Antônio Neves, de 65 anos, o Toninho, que conserta motores de barcos dos pescadores. “Está complicado, deu uma chuvinha de cinco minutos na semana passada e agora está só baixando. As balsas já pararam de funcionar por conta dos bancos de areia no meio do rio”, disse.
Mas, ainda segundo o homem, que vive na cidade há 44 anos, o principal problema é qualidade da água. “Ela está fedendo já. Muita gente que vive na beira sempre bebeu água do rio e agora está tendo que buscar água na cidade por causa dessas impurezas. O fundo só tem lodo, antigamente não tinha isso”, lamentou o local.
Toninho ainda conta que recentemente levou algumas pessoas em um passeio pelo rio e deixou todos abismados com a situação. “Foram até no meio do rio só caminhando. É de se assustar o quanto ele está seco”, finalizou.
Culpa dos dejetos
De acordo com João Naves, presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente (Codema), a culpa para a mortalidade dos peixes estaria no despejo de materiais químicos na água. “Existem muitas indústrias, siderúrgicas, plantações, principalmente em Três Marias, que acabam despejando produtos e agrotóxicos que, quando o nível da água está normal, não fazem tanta diferença. Porém, na situação em que se encontra, aumenta o número de cianobactérias”, explica.
Ainda de acordo com ele, os peixes que morrem são os sem escama, que costumam ficar no barro. “Geralmente surubim, cascudo. Mas é uma quantidade muito grande que está morrendo. Tenho recebido muitos relatos dos moradores”, falou. João afirma que há anos vem alertando os governos a respeito dos problemas hídricos, mas que pouco é feito. “É um assunto muito sério, mas é culpa da falta de planejamento, falta de reparo e fiscalização das empresas”.
Foto: Nível baixo também prejudica transportes e deixa água imprópria para consumo
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.