Por Mayron Régis, Territórios Livres do Baixo Parnaíba
Ele se recordava de quando chegara bem perto da Lagoa das Caraíbas. De outras coisas, nunca se afastaria. Não foram poucas as vezes em que se encontrara com o senhor Francisco das Chagas, presidente da associação da Lagoa das Caraíbas.
Em uma dessas vezes, das Chagas falou para todos ouvirem, no auditório do sindicato dos bancários, que esperava dele auxílio para que a regularização dos mais de 900 hectares do território da comunidade pelo Iterma realmente se concretizasse. Sentiu-se intimidado pela cobrança direta. Das Chagas causava temor em qualquer um ser vivo. Não dava para fingir que nada se passara. Quem atravessava seu caminho, ou esperava pelo pior ou então tirava seu time de campo.
O conflito entre a Suzano Papel e Celulose e as comunidades do Polo Coceira, em meio a Chapada, parecia perdido para a maioria dos moradores quando das Chagas compareceu. A notícia de que a Suzano Papel e Celulose, amparada pela polícia militar, rasgava a Chapada com tratores bateu na Lagoa da Caraíbas com estridência.
Sem nenhuma hesitação, das Chagas segurou um galão de gasolina e encaminhou-se na direção dos tratores para despejar a gasosa e incendiá-los na frente de todos. Só não o fez a pedido do tenente da polícia militar que decidiu de imediato acabar com a operação da Suzano Papel e Celulose.
Graças a intervenção de Francisco das Chagas e dos demais moradores da Lagoa das Caraíbas, a Suzano Papel e Celulose não ampliou seus plantios de eucalipto sobre as áreas de Chapada do Polo Coceira em 2009 e também por isso o Iterma no final de 2014, finalmente, regularizou os mais de 900 hectares da Lagoa das Caraíbas em nome da associação.