Após ler neste blog o apelo do antropólogo Terri Vale de Aquino, cujo filho indígena, Irineu Kaxinawá, de 19 anos, está preso há quatro meses em Tarauacá (AC), o advogado João Tezza decidiu assumir a defesa dele sem cobrança de honorários. O advogado criminalista Armyson Lee, do escritório de Tezza, já está em Tarauacá para obter cópia do processo. Os dois advogados vão apresentar habeas corpus em defesa do índio kaxinawá junto ao Tribunal de Justiça do Acre.
O filho do antropólogo foi preso no dia 3 de outubro do ano passado. Ele é acusado de ter praticado o crime de furto qualificado contra a loja de Maria Raimunda Menezes Saraiva, do município de Jordão. O indígena está sujeito a pena de reclusão de dois a oito anos, de multa, além de responder por corrupção de menor, pois um primo menor de idade participou do furto.
– Me parece, em princípio, sem julgamento de mérito, que já há excesso de prazo, além do que a preventiva não tem o menor fundamento – disse Tezza. Lee assinalou que o índio é réu primário, tem bons antecedentes e não possui vida criminosa. – Ele preenche todos os requisitos para obter a sua liberdade provisória. Não houve danos, pois os bens furtados foram todos devolvidos. Ele está sendo injustiçado por perseguição – acrescentou.
Em novembro, a juíza de direito Joelma Nogueira, titular das comarcas de Tarauacá e Jordão, negou ao indígena o benefício da liberdade provisória requerida pela Defensoria Pública. A juíza alegou que a manutenção da prisão preventiva tem “por objetivo evitar que o delinquente, tendo praticado o primeiro crime, pratique novos crimes, quer porque seja acentuadamente propenso à pratica delituosa, quer porque, em liberdade, encontrará os mesmos estímulos relacionados com a infração cometida.”
A juíza disse que o preso terá resguardado todo o seu direito de tomar ciência das provas produzidas antes do seu interrogatório, tendo em vista que o mesmo irá assistir a gravação da oitiva das testemunhas. A magistrada ressaltou que apenas cumpre o seu papel, dentro da lei, e que mantém a imparcialidade em suas decisões. – Não faço distinção de cor, credo ou raça. Nesse caso, sendo indígena ou não, o réu é acusado de um crime e as provas sustentam isso, razão pela qual está preso – disse a magistrada.
O antropólogo Terri Aquino foi o fundador da ONG Comissão Pro-Índio do Acre, que chegou a indicar o advogado Gomercindo Rodrigues para atuar na defesa do jovem indígena. – Quando falei com o advogado Gomercindo e pedi que fizesse um habeas corpus para soltar meu filho, ele deu uma gargalhada, dizendo que o Tribunal de Justiça do Acre, nos últimos anos, tem negado todos os pedidos de habeas corpus. E não atendeu meu apelo – relatou o antropólogo.
Rodrigues se notabilizou na década dos 1980 como militante petista na zona rural e aliado do líder sindical e ecologista Chico Mendes. Tezza, por sua vez, marcou sua carreira como advogado de fazendeiros e proprietários rurais da região.
Esclarecimento (atualização às 17h35) O advogado Odilardo Marques telefonou para esclarecer ao blog que presenciou o encontro de Terri Aquino com Gomercindo Rodrigues, sócio dele no escritório. Segundo Marques, seu sócio não chegou a gargalhar do apelo do antropólogo, mas da inconsistência da prisão preventiva do jovem indígena. O advogado disse que o sócio dele ficou esperando que o antropólogo obtivesse cópia do processo ou viabilizasse a viagem de Rodrigues até a comarca de Tarauacá.
http://altino.blogspot.com/2012/01/tezza-assume-defesa-de-indigena-preso.html