por Wilson Matos da Silva – uniaocampocidadeefloresta
Todos nós, douradenses ou não, sabemos, ou melhor, conhecemos de cor e salteado o histórico do caos instituído nas Aldeias de Dourados e região após o desmatamento e a implantação das fazendas de gado e das Colônias agrícolas, em especial a CAND – Colônia Agrícola Nacional de Dourados, a partir da década de 40, dezenas de aldeias tiveram que ser abandonadas pelos índios e suas terras incorporadas pela colonização.
Os índios ocupantes dessas aldeias foram aleatoriamente “despejados” nas minúsculas Reservas. Esse processo de redução e confinamento compulsório seguiu inexorável, à revelia de toda a legislação na época já existente e a favor da proteção dos direitos indígenas à terra, até o final da década de 70. Ressalta-se que defino por “confinamento compulsório” a transferência sistemática e forçada das diversas aldeias para dentro das oito Reservas demarcadas pelo governo entre 1915 e 1928 (Brand, 1998).
Nossas comunidades, com o apoio de setores da sociedade civil, dispostos a não aceitar a perda de nossos territórios tradicionais, iniciamos com êxito, a luta para interromper essa prática histórica, a famosa “quebra de milho”, comum em toda a região, usada para expurgar índios e pequenos colonos rurícolas, a fim de dar lugar a grandes fazendas de gado, pois enquanto nossas comunidades eram necessária como mão-de-obra semi-escrava nas fazendas, podiam permanecer em suas aldeias, mas, concluído o desbravamento das terras, eram expulsos, cabendo, em muitos casos, aos órgãos oficiais a tarefa de efetivar a transferência para as Reservas, exemplo Terra Indígena Taquara, onde o próprio SPI fez a desocupação.
A transferência de inúmeras aldeias e famílias inteiras para dentro das Reservas demarcadas entre os anos de 1915-1928, não significou apenas o deslocamento geográfico das nossas aldeias e a correspondente perda das terras. No interior das Reservas, profundas transformações ocorreram na relação com o nosso território tradicional, ao perder a nossa aldeia, nós fomos obrigados a disputar um lote cada vez mais reduzido no interior das mesmas. A crescente imposição do trabalho semi-assalariado surgiu como alternativa de sobrevivência, mas, atingiu as bases tradicionais da nossa economia e reforçou a exploração como mão-de-obra semi-escrava, barata e desqualificada, obrigando os homens a passarem meses distantes de suas famílias.
Nesse período as famílias que radicava-se nas fazendas da região foram transferidas para oito reservas, recém demarcadas entre as décadas de 1910 e 1940, pelo Serviço de Proteção ao Índio, próximas a cidades da região, como Caarapó, Amambaí e Dourados. A exigüidade das terras para o número total de indígenas tem sido um grave problema. Hoje, cerca de 14 mil Kaiowá, Guarani e Terena, habitam as aldeias Jaguapirú e Bororó no Município de Dourados, ocupando uma área de 3.539 hectares.
Ao descrever o cenário de tristeza e abandono, para introdução de matéria jornalística ao Midia Max, o jornalista Nicanor Coelho assim o descreveu: “O cenário é de caos, tristeza, abandono e dor. A cada canto da reserva indígena de Dourados pode se ouvir uns alaridos Guarani, Caiuá e Terena por um pedaço de pão. São quase quinze mil almas que se espremem num minúsculo território. Na aldeia bororó aos barracos de lona são repositórios de índios famintos. Uma rodovia corta a reserva que ainda sofre com a falta de alimentos. A mesma cana-de-açúcar que absorve a mão-de-obra indígena é aguardente para mitigar as dores de dentes cariados e a falta de esperança no semblante dos seres que desceram do céu para serem felizes na terra.”
A pergunta que não quer calar, Até quando as políticas pública de estado aos índios será “implementada” por apadrinhados políticos.