As vantagens de ser invisível: Vivian Maier

De uma excentricidade única e misteriosa, a recém-descoberta fotógrafa Vivian Maier é destaque do ‘Maio Fotografia no MIS 2015’ com exposição inédita no mundo

Por Renata Vomero, me Revista da Cultura

Chicago, década de 1950. Você passeia pelas ruas, praças e vielas e, com frequência, vê crianças correndo e pulando de um lado para o outro, muitas delas estão com as mães ou algum parente e outras ainda estão sendo vigiadas por suas babás. Uma dessas governantas, em particular, chama a sua atenção: alta, encorpada, com uma postura rígida e passos pesados, roupas masculinizadas e uma expressão pouco amigável.

Outro olhar mais atento e você verá que ela carrega pendurada em seu pescoço uma câmera Rolleiflex. Excêntrica, é o primeiro pensamento que lhe vem à cabeça, antes de ser disperso pelos gritos das crianças que ela cuida: elas parecem adorá-la. Ela é uma figura vista com frequência pelo bairro, caminha sempre com seus pequenos e tira uma foto aqui e outra ali. Você, inclusive, já a flagrou lhe retratando. Excêntrica.

Muitos anos se passam, talvez uns 50 ou 60. Você passa em frente a uma galeria de arte e um pôster de uma nova exposição chama a sua atenção: aquela mesma babá, aquela mesma imagem, a câmera. Fotógrafa? Sim! Seu nome? Vivian Maier.

vivian_maier - mulher no espelho

Esta, provavelmente, foi a reação de diversas pessoas que passaram pela vida desta norte-americana, nascida em 1926 e falecida em 2009, ao descobrirem a outra faceta da babá. Quando imaginariam que aquela figura peculiar ganharia o mundo por meio de sua arte? Bom, se fosse por ela, talvez ninguém descobriria esse talento, mas o jogo mudou em 2007, quando John Maloof estava em um leilão de antiguidades com a intenção de juntar imagens de Chicago para realizar um livro de memórias sobre a cidade. O historiador levou uma caixa com 10 mil negativos de Vivian Maier por 300 dólares. Resumindo: encontrou um tesouro.

Quando percebeu a qualidade daquelas imagens, Maloof mergulhou em uma imensa pesquisa sobre a fotógrafa. Havia poucos registros sobre Vivian e nenhum deles mencionava seu apreço pela fotografia. John se encantou por aquele mistério e conseguiu trazer à tona a história daquela mulher tão reclusa.

Considerada à altura de nomes como Cartier-Bresson, Vivian Maier chega ao Brasil como destaque do Maio Fotografia no MIS 2015, em exposição inédita intitulada Vivian Maier II – In Her Own Hands, em cartaz de 21 de abril a 14 de junho. “É o trabalho de maior sucesso atualmente no circuito da Europa e dos EUA e ter essa obra sendo apresentada pela primeira vez no Brasil é realmente muito bacana”, comenta André Sturm, curador do Maio Fotografia e diretor executivo e curador geral do MIS.

vivian_maier - negro no espelho

Composta por 106 fotografias, além de nove filmes gravados em Super 8, esta estrutura e as imagens da exposição são inéditas no mundo, outro fator que traz ainda mais destaque para o evento. “Vivian Maier é um acontecimento em si, sem precedente na história da fotografia. A obra de Vivian tem que ser vista, compartilhada com o público para que possa existir. O Brasil é um país onde as respostas do público são um fenômeno tangível”, revela Anne Morin, curadora da exposição.

MISTÉRIOS E MAIS MISTÉRIOS
Vivian teve uma vida comum – como a maior parte de nós – e passou seus dias reclusa, sem mostrar quem era. Sabemos que era uma babá bastante rígida, como mostra o próprio John Maloof em seu documentário A fotografia oculta de Vivian Maier (2013), mas também muito atenciosa e responsável no cuidado com as crianças.

Ela tinha o hábito de carregar consigo a sua vida, guardando muitos objetos, roupas, cartas e recortes de jornais. Era uma acumuladora. Sua relação com a memória era muito forte e talvez venha daí sua paixão pela fotografia. A babá nunca se casou ou teve filhos, muito menos tomou conhecimento teórico a respeito de sua arte. “Maier tinha um domínio das técnicas de fotografia impressionante. É incrível o que ela conseguia capturar com câmeras relativamente simples e baratas. Ela não estudou fotografia, mas fotografou incansavelmente durante anos a fio”, pontua Rejane Dias, diretora executiva do Grupo Autêntica e responsável pela edição do livro Vivian Maier: Uma fotógrafa de rua, lançado em junho passado no Brasil.

vivian_maier - velho dorme praia

vivian_maier - menina carro

vivian_maier - rapaz e pombo

Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.

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