Por Adriano Brito, da BBC Brasil em São Paulo
Enquanto Minas Gerais e Espírito Santo lidam com os impactos do rompimento da barragem de Mariana, a vizinha Bahia enfrenta outra tragédia ambiental: as consequências de uma das piores séries de incêndios já registradas na Chapada Diamantina, um dos símbolos do Estado e onde nascem alguns dos principais rios que abastecem a população baiana.
Depois de um mês de chamas, as chuvas que começaram a cair na última quarta-feira finalmente acabaram com o fogo, de acordo com a Secretaria do Meio Ambiente da Bahia. Nesta sexta, não eram mais verificados focos de incêndio, afirmou à BBC Brasil o secretário Eugênio Spengler.
Não se trata, porém, de um desastre que chega ao fim com o apagar da última chama. Seus efeitos devem se prolongar por mais de uma década em um local onde caatinga, cerrado e mata atlântica se encontram.
“Se não passar fogo por ali (de novo), em 15 anos é que algumas áreas começarão a se recuperar”, diz o geógrafo Rogério Mucugê, coordenador de projetos da ONG Conservação Internacional na região, onde vive desde a década de 1990.
Segundo ele, esse é o prazo para que a mata ciliar, a área de floresta que protege os rios, esboce uma reação – os campos de cerrado se recuperam mais rápido. Em razão da diversidade, algumas espécies da fauna e da flora só existem ali.
Uma equipe da ONG, que estava na chapada para gravar um vídeo sobre um projeto ambiental que realiza na bacia do rio Paraguaçu, registrou o combate e o impacto dos incêndios, inclusive nos arredores de um dos símbolos da região, o Morro do Pai Inácio. Algumas dessas imagens acompanham essa reportagem.
Equipes estaduais estão fazendo um levantamento dos efeitos do fogo na fauna e da flora, trabalho que irá determinar o montante a ser investido na restauração florestal, afirma o secretário Spengler. Segundo ele, a área será prioridade na alocação de recursos da pasta.
Além das consequências imediatas nas espécies locais, um incêndio dessa proporção afeta também a quantidade e qualidade da água que chega a boa parte dos baianos, e logo em tempos de seca mais severa por causa do fenômeno climático El Niño, explica o geógrafo Mucugê – homônimo, aliás, da cidade baiana onde vive.
O rio Paraguaçu, cuja nascente fica ali, abastece 85 municípios, incluindo 60% da região metropolitana de Salvador.
A chuva que caiu nesses últimos dias está longe de ser a esperada para o mês de novembro na área da chapada, tida como a “caixa d’água da Bahia”, conta.
Segundo o coordenador de projetos da ONG, a tendência é que o quadro de seca – e, consequentemente, de incêndios – piore. Ele critica a falta de um planejamento territorial integrado para a chapada.
“A cada ano que passa a região está mais seca e, caso não haja planejamento, a tendência é a de que esses efeitos sejam piores”, conta Mucugê.
“Existe a diferença entre apagar fogo e combater incêndio. Eu digo que, localmente, a gente apaga fogo. A gente elimina um foco, mas outros surgem. Territorialmente, falando-se de Chapada Diamantina, a gente ainda apaga fogo, é como enxugar gelo”, diz ele.
O secretário estadual do Meio Ambiente afirma concordar que ainda há muito a ser feito e que, se não fosse a ajuda da comunidade, o cenário poderia ter sido ainda pior, como ocorreu em 2008, quando 40% dos 152 mil hectares do Parque Nacional da Chapada Diamantina foram atingidos pelo fogo.
Cerca de 210 pessoas, incluindo bombeiros do Estado, Defesa Civil Nacional, integrantes das Forças Armadas e brigadistas voluntários atuavam até esta sexta no local, segundo o governo. Spengler diz que o monitoramento continuará. “Não desmobilizaremos a equipe até o fim de dezembro.”
Embora lembre o número de pessoas envolvidas – “essa foi a maior operação (do tipo) já registrada pelo governo da Bahia” –, e aponte uma evolução no trabalho, citando o aumento no numero de brigadas voluntárias na região – de 1 ou 2 existentes no incêndio de 2008 para as cerca de 24 atuais –, o secretário reconhece que ainda não é o suficiente.
O ideal, diz, é ter uma brigada para cada um dos 42 municípios da chapada. E investir em estrutura, equipamentos, treinamento, educação ambiental, estrutura de comunicação com rádio e outros.
“Os incêndios são o maior problema ambiental que se tem na Bahia. E não só na chapada. Se queima muito em outras áreas no semiárido e do cerrado”, diz.
Além de todo o desastre ambiental, combater um incêndio dessas proporções sai caro. O governo da Bahia fala em um total de R$ 9 milhões gastos.
A Polícia Civil baiana investiga a possibilidade de que alguns incêndios tenham sido criminosos. Segundo o secretário do Meio Ambiente, há algumas “coincidências” sendo apuradas, como a ocorrência de vários focos em uma mesma área, às margens da BR-242, e quase sempre no mesmo horário, no fim de tarde.
“Será que as peças quentes dos carros só caem nesse trecho?”, questiona Spengler.
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Destaque: Área queimada próxima ao Morro do Pai Inácio. Foto de Rafael Duarte, CI Brasil.
Enviada para Combate Racismo Ambiental por Ney Didãn.
gostaria de saber como podemos nos mobilizar para ajudar as terras de mateiros ao lado do Jalapão estão havendo muito focos de incêndios? neste mês de outubro e ano de 2017. Palmas – To