No Cimi
Há praticamente um mês, a Terra Indígena Caru, no Maranhão, está com vários focos de incêndio não controlados. Na vizinha Terra Indígena Awá, a mata queima há cerca de uma semana. Depois da queimada que recentemente consumiu metade da Terra Indígena Arariboia, os indígenas combatem o fogo sozinhos e, com suspeitas de incêndio criminoso, estão preocupados com a possibilidade do fogo se alastrar e atingir grupos de indígenas que vivem isolados no interior destas áreas.
Na TI Caru, há as aldeias Awá e Tiracambu, do povo Awá Guajá, e a aldeia Maçaranduba, do povo Guajajara. Na TI Awá fica a aldeia Juriti, dos Awá Guajá. Além disso, em ambas as áreas existe a presença de grupos Awá Guajá isolados, e as duas sofrem com as constantes invasões e a exploração ilegal de madeira, motivo pelo qual os Guajajara resolveram organizar grupos de guardiões.
A Terra Indígena Awá já é o quinto território indígena atingido por queimadas no Maranhão só no ano de 2015. Antes dela e da TI Caru, já foram queimadas partes das terras indígenas Arariboia, Geralda Toco Preto e Alto Turiaçu. No caso da Terra Indígena Arariboia, praticamente metade da área de floresta amazônica integrada ao território indígena foi consumida pelas chamas, que quase atingiram o grupo do povo Awá Guajá que vive em isolamento voluntário dentro da área. O incêndio foi considerado criminoso e, enquanto a área queimava, um agente de fiscalização do Ibama foi atingido por um tiro no braço direito, disparado por madeireiros.
Os indígenas que vivem nas terras indígenas Caru e Awá também desconfiam de fogo criminoso, como vingança pela atuação dos guardiões do povo Guajajara, que têm feito a autodefesa de seus territórios contra a invasão de fazendeiros e madeireiros.
“Nas terras indígenas Caru e Arariboia, há guardiões, que surgem nessa perspectiva dos índios tomarem para si a responsabilidade pela proteção dos territórios, do monitoramento dos limites da área, por conta da própria omissão e morosidade do Estado brasileiro, que tem a obrigação, por meio da Funai, de fiscalizar as terras indígenas. Como eles não tinham resultados dessas operações, os indígenas começaram a assumir para si a responsabilidade de fazer essa fiscalização. O monitoramento dos focos de invasão é feito pelos guardiões”, explica Madalena Borges, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) Regional Maranhão.
“Nessas duas terras há forte presença de indígenas isolados, que são grupos de Awá Guajá que ainda se encontram em situação de isolamento. É uma ameaça muito grande tanto para os indígenas que vivem nas aldeias, quanto para os índios isolados que se encontram nesses territórios”, afirma Madalena. “Tanto os Awá que vivem em aldeias quanto os isolados dependem exclusivamente da floresta para continuar sobrevivendo. Já temos territórios que são cheios de invasores, e um fogo como esse coloca em risco de extinção esse povo. Os Awá nas aldeias têm apenas 40 anos de contato com a sociedade não-indígena”.
Cláudio Guajajara e Rosilene Guajajara, da aldeia Maçaranduba, na TI Caru, contam que os indígenas têm realizado reuniões com o Ministério Público Estadual (MPE), a superintendência do Ibama e a Funai, para buscar apoio na contenção das chamas. Eles estimam que cerca de 1500 hectares já foram queimados apenas dentro da TI Caru. “Arariboia queimou metade, e aqui eles acham que está pouco, mas pode se alastrar”, afirmam os indígenas. Segundos eles, há 42 guardiões Guajajara atuando na TI Caru, onde três focos de fogo já foram sufocados apenas pela atuação dos indígenas.
“Contivemos o fogo só mesmo na coragem e na força. Nós não temos equipamentos, então roçamos uma área de dois metros de largura ao redor dos focos, para tentar conter o avanço. É muito arriscado e, para piorar, não temos previsão de chuva por aqui”, afirma Cláudio Guajajara.
Os indígenas acreditam que os incêndios devem ser ações de vingança de madeireiros devido à ação dos guardiões, em função do local em que os focos iniciaram e porque, segundo eles, nunca havia acontecido nestas terras, e nem tantos incêndios em tão pouco tempo. “O fogo surge do nada, em regiões que não tem roça e nada que apresente risco”.
Cláudio e Rosilene Guajajara contam que já encontraram onças, jabutis e tatus mortos pelo fogo e que há pelo menos outros três focos de incêndio dentro da TI Caru que os indígenas ainda não conseguiram controlar.
“Eles já comunicaram aos órgãos competentes, pedindo ajuda para o governo do estado, mas até agora nenhuma resposta desses órgãos para ajudar a controlar”, afirma Madalena Borges, do Cimi. “Eles estão bastante preocupados, porque além das queimadas os rios também estão secando. Então, está uma tristeza só aqui na aldeia, eles vendo a morte dos rios, dos peixes, e muitos animais de pequeno e grande porte salpecados pelo fogo”.
Fotos: Rosilene Guajajara