Entre os anos 1980 e 2010 foram assassinadas mais de 92 mil mulheres no Brasil, 43,7 mil somente nesta última década.
Por Catiana de Medeiros, da Página do MST
Mulheres ligadas ao MST e oriundas de assentamentos de Nova Santa Rita, na região Metropolitana de Porto Alegre (RS), utilizaram a Tribuna Popular na Câmara de Vereadores do município, nesta terça-feira (24), para manifestar repúdio à violência do capitalismo contra as mulheres.
“As camponesas, militantes e trabalhadoras condenam e lutam contra toda forma de opressão à vida humana e da natureza. Nós queremos o fim da violação dos direitos e da violência contra as mulheres”, declarou a assentada Josene Aparecida dos Santos.
Segundo as manifestantes, as mulheres sofrem violência através da interferência do capitalismo no modelo de agricultura onde, na forma convencional, a terra e os alimentos são para gerar lucro e não para alimentar os seres humanos com o potencial nutritivo que as plantas oferecem.
“Necessitamos de políticas públicas que viabilizem a agricultura camponesa agroecológica, para que nosso solo produza alimentos saudáveis para o campo e a cidade”, apontou Josene.
Violência conta as brasileiras
Na ocasião, foram compartilhados dados de uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), que mostra que, de um total de 83 países pesquisados, o Brasil ocupa o 5º lugar no mundo em taxa de homicídio de mulheres – são 15 mortes por dia.
Entre os anos 1980 e 2010 foram assassinadas mais de 92 mil mulheres no Brasil, 43,7 mil somente nesta última década.
Ainda de acordo com informações apresentadas pelas assentadas, em média, 81% dos autores das agressões têm ou tiveram vínculo afetivo com a vítima; 3 a cada 5 mulheres jovens já sofreram algum tipo de violência em relacionamentos; 48% das mulheres agredidas declaram que a violência acontece em sua própria residência; e 56% dos homens admitem que já cometeram alguma forma de ação conta elas, tais como obrigar a fazer sexo, xingamentos, agressões físicas e impedir de sair de casa.
Conquistas e lutas
As mulheres também destacaram algumas de suas conquistas ao longo da história. Entre os exemplos citados estava o direito ao voto, auxílio-maternidade, terra e trabalho.
Contudo, as camponesas afirmaram que ainda há lutas que precisam ser intensificadas para garantir, entre outras questões, a igualdade salarial e de gênero, políticas públicas, direito ao aborto e respeito às opções sexuais.
Para isto, elas propõem a construção de delegacias especializadas no atendimento à mulher e de instrumentos de discussão, informação e reflexão para serem trabalhados em escolas, coletivos, associações, igrejas e outros espaços para enfrentar coletivamente a violência de gênero.
“A violência é um problema coletivo a ser resolvido e se ela existe entre marido e mulher devemos sim meter a colher e lutar para construir novas relações de gênero que garantam, efetivamente, igualdade de condições”, finalizou Josene.
Anterior à manifestação na Câmara de Vereadores, as mulheres camponesas fizeram panfletagem nas principais ruas da cidade de Nova Santa Rita. Em outros municípios gaúchos, como Manoel Viana, Santana do Livramento, São Gabriel, Piratini, Bagé, Tupanciretã, Jóia e Viamão também estão sendo feitas ações.
As atividades fazem parte da semana de debates sobre a violência contra a mulher no campo, que está sendo realizada pelo MST em todo o país, em alusão ao 25 de novembro, o Dia Internacional de Luta pelo fim da Violência contra a Mulher.
—
Enviada para Combate Racismo Ambiental por José Carlos.