Incra reconhece [parcialmente] área da comunidade Quilombo Rio dos Macacos em Simões Filho

Decisão foi publicada na edição desta quarta (18) do Diário Oficial da União. Terras ficam localizadas em Simões Filho, região metropolitana de Salvador.

G1 BA

O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu terras da Comunidade Remanescente de Quilombo Rio dos Macacos, no município de Simões Filho, região metropolitana de Salvador. O terreno está situado em área de disputa  entre a comunidade quilombola e a Marinha do Brasil. A decisão foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) desta quarta-feira (18).

De acordo com o Incra, a área reconhecida possui extensão de 301,3695 hectares e foi delimitada pelo Relatório Técnico de Identificação e Delimitação (RTID), emitido em 2014.

Desse total, 104,8787 hectares serão destinados à comunidade quilombola e os outros 196,4908 hectares permanecerão sob administração da Marinha, uma vez que, conforme a decisão, a área é de “interesse estratégico à defesa nacional” por já ser utilizada há décadas pela Marinha.

O Incra esclareceu que a comunidade Rio dos Macacos está situada nos arredores do local onde funciona a Base Militar da Marinha e, por conta disso, parte desse entorno representa o que se chama de “faixa de segurança” da base.

Ainda de acordo com o documento, agora deverá ser dado prosseguimento dos autos administrativos para fins de regularização fundiária da área destinada à comunidade – dois terrenos descontínuos, que totalizam os 104,8787 hectares.

Em contato com o G1, a líder comunitária Rosemeire Silva destacou a luta dos quilombolas pelo reconhecimento das terras pelo Incra, mas disse que a comunidade vai reivindicar a área que permanecerá sob administração da Marinha.

“Esse reconhecimento foi resultado de muita luta da comunidade. Mas vamos continuar lutando pela outra parte. A gente tinha mais de 900 hectares na região, mas infelizmente essa área foi reduzida para 301 [hectares]. Na portaria só saiu esses 104 [hectares], mas vamos continuar lutando pelo restante. A parte que ficou com a Marinha, por onde passa um rio e onde foi feita uma barragem, também é uma área da comunidade, de onde tiramos nosso sustento com pescados. A comunidade não vai ficar quieta”, disse.

Por meio da assessoria de comunicação, o Incra informou que a regularização dos 104 hectares destinados à comunidade é fruto de decisão do Governo Federal, com base em processo de discussão iniciado em 2012 e liderado pela Secretaria-Geral da Presidência da República.

Segundo o Incra, a decisão foi definida em comum acordo com a comunidade, com a Marinha, a Presidência da República, o Ministério da Defesa, o Ministério do Desenvolvimento Agrário, a Advocacia Geral da União, o Conselho de Defesa Nacional, a Fundação Cultural Palmares e o Governo do Estado da Bahia.

Em nota, a Marinha informou que a portaria publicada nesta quarta “contempla a última proposta apresentada pela Secretaria-Geral da Presidência da República para conciliação entre os interesses da defesa nacional e os da comunidade Rio dos Macacos, ao prever, em seu Artigo 2º, que a área destinada à comunidade será de 104,8787 hectares”. A Marinha ainda reafirmou que os 196,4908 hectares permanecerão sob sua administração por ser considerada área de “interesse estratégico à defesa nacional”.

Histórico

A área que abriga o quilombo Rio dos Macacos tem a sua propriedade disputada na Justiça Federal há mais de 40 anos entre moradores da comunidade e a Marinha. O conflito com a Marinha começou na década de 70, depois que a Base Naval de Aratu foi construída e a União pediu a desocupação da área.

Em 2009, os moradores do quilombo solicitaram uma intervenção do Ministério Público Federal (MPF), que atua junto à Justiça para provar que eles são remanescentes de escravos e têm o direito de posse.

Um estudo técnico realizado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) apurou detalhes sobre a ocupação e reconheceu a área como terreno quilombola.

Uma decisão liminar proferida em novembro de 2010, entretanto, foi favorável ao pedido da ação reivindicatória proposta pela Marinha e ordenou o despejo das famílias. O governo federal tentou acordo para transferir os moradores para outro terreno da União, mas os quilombolas, que há várias gerações ocupam a área, resistiram em sair do local.

Destaque: Rosemeire dos Santos é a principal liderança da comunidade. Foto: Fernando Vivas, A Tarde.

Deixe um comentário

O comentário deve ter seu nome e sobrenome. O e-mail é necessário, mas não será publicado.