‘A gente do mato, quando vai para a cidade, se sente muito pacato. Dá até dor de cabeça. Acho bonito, tem praia, aquela coisa toda, mas a gente tem medo do mar, medo de ser assaltado. Vai que a gente morre. Não gosto nem de falar. Desculpe o meu dizer, sou matuto mesmo. Tem coisa que não é do nosso mundo’. (Bichinho, 55 anos)
Por Caio Barreto Briso, O Globo
No alto de uma montanha em Campo Grande, a caminho do Pico da Pedra Branca, o mais alto do Rio com seus 1.024 metros, vivem agricultores isolados do resto da cidade. Cerca de dez famílias habitam casas de pau a pique, sem energia, onde a luz vem de velas e lampiões, como no século XIX. As notícias do mundo chegam pelo rádio de pilha. Burros fazem escoar toda a produção de banana prata e caqui da região, metade dela orgânica. São os resquícios do sertão carioca, como era chamada a Zona Oeste, antiga área rural, até os anos 1950. Para chegar às casas mais distantes, caminha-se até 4 horas em uma trilha pela mata fechada (depois de duas horas de carro, para quem sai do Centro). Dos sussurros da floresta nascem histórias de “visagens”, assombrações da meia-noite que muitos juram existir. Durante seis dias, uma equipe do GLOBO conviveu com os agricultores, compartilhando refeições, acompanhando o trabalho na roça, desbravando o sertão carioca. (mais…)
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