Pelas vítimas!, por Andréa Zhouri

O face me pergunta: No que você esta pensando? Pois então. Hoje eu me levantei pela manhã (não posso dizer que acordei, não sei se dormi) pensando em Bento Rodrigues, nas vítimas, na dor, na lama…meus primeiros pensamentos foram em solidariedade às vítimas. Eu não conheço Bento Rodrigues, mas logo penso em Água Quente, no município de Conceição do Mato Dentro, comunidade que fica debaixo da barragem de rejeitos da Anglo American. Comunidades a jusante de barragens, seja de rejeitos ou hidrelétricas, não são consideradas atingidas no processo de licenciamento ambiental. Mas Água Quente vive um cotidiano de insegurança e de medo, condição que lhe foi imposta pela empresa e pelo Estado. Temo por Água Quente e sua gente. Como temo pelas comunidades a jusante de Irapé, que perderam a agricultura de vazante e, ainda assim, em estado de penúria administrada desde 2006, não são consideradas atingidas pela barragem. Que sensação horrível de impotência…

Mas meus pensamentos estão inquietos. Imediatamente recordo os comentários do Secretário de Estado do Meio Ambiente de Minas Gerais, Sávio Souza Cruz, postados no seu face, no dia seguinte a Audiência Pública que discutiu o PL 2.946/2015 na ALMG: “quem cala nem sempre consente. As vezes é preguiça de discutir com gente chata”. O estômago embrulhou. Então os questionamentos feitos ao PL que pretende acelerar e simplificar o licenciamento a pedido de empresas, sobretudo mineradoras, foram considerados chatices, coisas de alguns xiitas? É isso mesmo secretário? O que faz a maior autoridade de meio ambiente do estado ter preguiça de ouvir considerações ambientais? Não sei, que mundo louco. Mas a consequência trágica esta aí. As vítimas estão em Bento Rodrigues e região. Geralmente são trabalhadores, comunidades rurais, povos tradicionais e indígenas, populações negras e pobres que pagam a conta. Pagam com suas vidas pela ganância de empresas e a conivência das autoridades neste país sub-desenvolvido.

É preciso discutir o licenciamento ambiental, as condicionantes não cumpridas, os riscos de rompimento de barragens anunciados em pareceres técnicos e negligenciados por empresas e governos, o racismo institucionalizado nas práticas do licenciamento. Precisamos de líderes políticos verdadeiramente republicanos! Abaixo o racismo ambiental! Basta!

Foto: Corpo de Bombeiros de MG
Distrito de Paracatu. Fotos: Corpo de Bombeiros de MG

 

Comments (1)

  1. Mineradoras e petrolíferas são um exemplo do coroamento do falidíssimo e falecido sistema econômico e político de um Brasil colonial versão século 21, destruído ambiental, social e educacionalmente. A falência da ética, se é que algum dia neste país ela existiu, é o combustível que alimenta a fogueira secular da irracionalidade acesa desde a primeira missa. A espécie humana nasceu com alguns defeitos graves de fabricação em dois pilares fundamentais de sua natureza própria: raciocínio e criatividade. Só a evolução biológica dará conta de corrigi-los.

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