A Marcha das mulheres Guarani e Kaiowá pelo Bem Viver

Por Marlene Ricardi*, no Cimi

Mato Grosso do Sul é o segundo estado brasileiro em população indígena e, é também o que mais viola os direitos das populações tradicionais. O estado brasileiro contribuiu nesse processo de violação desde os primórdios da ocupação e expansão para o Oeste, com objetivo desenvolvimentista e exploratório. Isso se deu com a exploração massiva da mão de obra indígena na exploração da erva mate pela Companhia Mate Laranjeira, financiada pelo Estado, pela criação dos territórios federais, como por exemplo, Ponta Porã e ainda a “colonização” protagonizada pelo governo Getúlio Vargas, que titulou os territórios indígenas para o latifúndio na região da grande Dourados.

A espoliação, a violência e as violações são uma constante há muitos séculos e continua a acontecer nos dias de hoje, especialmente entre os povos Guarani Kaiowá, que habitam o sul do estado e os municípios de fronteira. Nesse contexto, as mulheres são as que mais sofrem privações, perseguições e violências. Elas são arrancadas de seus barracos no meio da noite, por tiros e pelo fogo ateado em suas humildes moradias. Todavia, continuam a sua peregrinação e luta nas áreas de retomada.

O modelo de desenvolvimento obrigatório no sistema capitalista, e em nosso país, exploratório, predador, tanto do meio ambiente, como do ser humano, não corresponde ao modo de vida Guarani e Kaiowá. O significado que tem a terra para o capitalismo, não corresponde ao que o Povo Indígena compreende da Terra. Ela não possui valor venal, mas sagrado, a Terra é Mãe, aquela que gera e fortalece a vida e a vida de seus filhos. A terra deve ser o lugar onde se pode reproduzir o “Bem Viver”.

A retomada dos Tekohas (territórios tradicionais, sagrados para o povo indígena), significou e significa para os Guarani e Kaiowá a possibilidade de reproduzir sua cultura, sua religiosidade, sua dança, seu canto, plantar a sua roça, de conviver harmonicamente com a natureza e seus filhos. Significa a retomada do Bem Viver. Entretanto, o que deveria ser o restabelecimento da dignidade, da liberdade, do direito à terra sagrada, se tornou um grande pesadelo.

A omissão do estado brasileiro em demarcar os territórios tradicionais, vem acarretando todo tipo de mazela. Nos últimos 20 anos mais de trezentas lideranças indígenas foram assassinadas no Mato Grosso do Sul, entre homens e mulheres, e ainda sofrem todo tipo de violação e violências, as mulheres são estupradas (jovens e adultas) por pistoleiros, jagunços, e obrigadas a permanecer no silêncio. Um silêncio que leva à morte, ao suicídio, tamanho o dano causado por esse tipo de violência às mulheres indígenas.

As Mulheres indígenas do Mato Grosso do Sul, as mulheres Guarani e Kaiowá, clamam por justiça, por respeito, por dignidade. As jovens Guarani e Kaiowá clamam por direitos, por respeito, por segurança. Clamam pelo direito à vida conforme a cultura de seu povo. As crianças Guarani e Kaiowá pedem socorro, socorro para que cessem com a maldade praticada contra elas. Socorro para que cesse o Genocídio cometido em uma guerra que elas não começaram. As crianças Guarani e Kaiowá querem simplesmente Bem Viver.

Seguiremos em Marcha até que todas as Guarani e Kaiowá possam Bem Viver.

* Marlene Ricardi, Historiadora e Pós Graduada em Gênero e Política Pública.

Imagem: Reprodução do Cimi

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