Você já fez o papel ridículo de “líder de torcida” na rede?, por Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Creio que bati um recorde pessoal. Quase que imediatamente, fui chamado de petralha mamador das tetas da Dilma, ao criticar um política do PSDB. E de tucano capacho do Partido da Imprensa Golpista e sugador do Alckmin ao criticar uma política do PT. Detalhe: as reações foram sobre uma mesma fala.

Desculpem a história em primeira pessoa, mas, afinal, isto é um blog. Lembrei-me de uma historieta. Algum tempo atrás, um assessor político no Congresso Nacional disse que um certo texto meu sobre a situação social no Maranhão, apesar de bem apurado e com informação, seria pouco distribuído nas redes sociais.

O post trazia críticas às gestões Sarney, por conta de um assunto, e questionava a atual gestão Flávio Dino, por outro. E daí, segundo ele, residia meu erro.

Pois nem a “torcida” dos Sarney, nem a “torcida” do Dino se sentiriam à vontade de compartilhá-lo e tuitá-lo, uma vez que era negativo aos dois.

E ele acertou em cheio. A dica seria, da próxima vez, dividir em dois, agradando, assim, diferentes públicos, como muita gente faz.

Amo essa nossa sociedade binária, dos “homens de bem” contra o mal.

Porque muitos dos textos em redes sociais não circulam como sugestão de leitura a amigos ou desconhecidos, mas para servir de munição aos que atuam de forma voluntária (por crença pessoal) ou paga (por crença ao dinheiro) na defesa a visão de um determinado grupo em uma guerra digital deflagrada e cada vez mais violenta.

Num momento em que reduzem o número de leitores e cidadãos e aumentam o de fãs clubes e torcedores, somos sistematicamente coagidos a nos tornarmos cheerleaders de um grupo político e defendê-lo até a morte. Caso contrário, somos vistos como incoerentes.

Incoerente é o cidadão deixar o senso crítico no congelador e terceirizar a interpretação da realidade. Para muitos, uma mensagem anônima no WhastApp é mais agradável que cinco minutos de reflexão solitária – pois nunca se sabe aonde a autocrítica pode nos levar. Para esses, dedico – não o meu desprezo – mas minha compaixão. Com fé e perseverança, uma dia vão perceber que desperdiçaram um naco de suas vidas.

Ou como disse um leitor em pane: “Você é um hipócrita. Sabemos que você comprou um Porsche, uma cobertura duplex e um apartamento em Paris com os pixulecos que ganha para defender o governo, mas critica o governo toda a hora. Qual o seu problema?”

Meu problema? É não saber onde parei o Porsche. E ainda ter a curiosidade mórbida de ler alguns debates em redes sociais.

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