Algemados, dois presos estão de costas para sete agentes armados. Um guarda parece não gostar do gesto de um dos rendidos, saca a taser (pistola de choque) e dispara contra o preso, que cai.
Outros dois detentos, em seguida, aproximam-se por uma antessala atrás dos guardas e tocam no homem que fez o disparo do choque.
É a deixa para dois policiais reagirem. Com espingardas, dão quatro tiros na direção dos dois, do que parecem ser balas de borracha. Um dos presos desaba no chão. Um policial volta, faz a mira nele e dispara de novo.
As imagens foram captadas por câmeras do circuito interno do presídio Barra da Grota em Araguaína Tocantins. A Defensoria Pública Estadual vê indícios do crime de tortura. O governo estadual informou que vai afastar a direção do presídio.
A cena ocorreu no final de fevereiro deste.
O presídio abriga 426 homens, pouco menos do que a capacidade, de 438 vagas.
Dos cinco presos envolvidos na cena, o ferido com mais gravidade é o que leva o tiro de bala de borracha quando está caído no chão.
Ele foi atingido no queixo, além de outras partes do corpo, segundo o defensor público Sandro Ferreira Pinto, que o visitou no hospital dias depois do episódio. “Ele nem conseguia relatar direito, falar com precisão, por conta do ferimento na boca.” Outro detento, que não aparece nas imagens, diz que também foi alvo da arma de choque.
Depois de ouvir algumas das vítimas, a Defensoria cobrou da direção do presídio as imagens das câmeras de segurança, mas foi informada de que o vídeo havia sido apagado. Recorreu então à Justiça, que autorizou a busca e apreensão de equipamentos do circuito interno.
Enquanto o material é analisado pela perícia, o defensor, o Ministério Público Estadual e a Vara Criminal receberam de forma anônima um CD com trechos das imagens, às quais a Folha teve acesso.
“Causa uma tristeza muito grande. Que tipo de ressocialização está sendo oferecida? Os reeducandos estão rendidos e indefesos”, afirma o defensor. O Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria deve oficiar o Estado para que afaste os envolvidos e tome providências.
O Ministério Público tomou conhecimento do vídeo na semana passada e instaurou uma investigação criminal para apurar o suposto caso de tortura. Via assessoria, o promotor Leonardo Gouveia Blanck informou que não poderia dar detalhes do caso, por estar sob sigilo.
A Secretaria de Defesa e Promoção Social do governo do Tocantins, em nota, disse que “já providenciou a substituição do diretor da unidade prisional” e que vai comunicar o fato à Corregedoria da Polícia Civil “para que o caso seja apurado e, os envolvidos, responsabilizados”.
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Enviada para Combate Racismo Ambiental por Neyla Mendes.
Destaque: foto do Portal.