A luta pela vida contra um modelo de morte: Semana Zé Maria do Tomé

Por Dillyane Ribeiro*

Há cinco anos, Zé Maria do Tomé, líder camponês, foi assassinado com 25 tiros. Desde então, o Movimento 21, a cada ano, realiza a Semana Zé Maria do Tomé com o objetivo de relembrar e refletir sobre o seu assassinato e o contexto em que ele se deu.

No dia 21 de abril de 2015, realizou-se a Caminhada dos Mártires para lembrar a vida e a luta de Zé Maria do Tomé. A caminhada de 6km, que faz parte da Semana, iniciou no ponto onde Zé Maria foi assassinado, na estrada do Tomé, e seguiu até a praça central da comunidade, que é distrito de Limoeiro do Norte, na Chapada do Apodi.

Na caminhada, se ouvia em coro: “Companheiro Zé Maria, aqui estamos nós, falando por você já que calaram sua voz!”. Antes mesmo do seu início, houve a realização de uma mística no Acampamento Zé Maria do Tomé, formado por famílias da região organizadas no Movimento de Trabalhadores/as Rurais Sem Terra. Na mística,  celebrou-se o futuro que se está construindo hoje a partir da resistência dos/as camponeses/as em defesa do território. Essas famílias, em coletivo, denunciam a lógica do agronegócio implantada pelo Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi e propõem uma transição agroecológica.

Além da Caminhada dos Mártires, a programação da Semana Zé Maria seguiu com atividades na Chapada do Apodi e na Faculdade de Filosofia Dom Aureliano Matos (FAFIDAM), em Limoeiro do Norte. Um dos pontos altos foi o Seminário “Mulheres, Saúde e Território”, onde o Núcleo Tramas (UFC) apresentou alguns resultados da pesquisa realizada com mulheres da chapada sobre os impactos do agronegócio na saúde, no trabalho e no ambiente. As próprias sujeitas da pesquisa puderam relatar o aumento do adoecimento, sobretudo dos casos de câncer e lesões por esforço repetitivo no caso das mulheres que trabalham nas empresas, bem como relataram sobre a dupla jornada de trabalho, a contaminação da água, entre outros impactos. No entanto, elas também visibilizaram a resistência que realizam produzindo de maneira agroecológica em suas comunidades.

Também como parte da Semana Zé Maria do Tomé foi realizada uma Audiência Pública sobre o uso intensivo de agrotóxicos no Ceará, no Complexo das Comissões Técnicas da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará, em Fortaleza.

A Semana Zé Maria do Tomé, já em seu quinto ano, vem se consolidando como um espaço essencial de resistência e reivindicações de direitos humanos e ambientais, no contexto atual de grave conflito socioambiental na região. Tal conflito se instalou a partir do processo de modernização agrícola conservadora marcado pela presença de grandes empresas do agronegócio, sobretudo a partir dos anos 2000. A instalação do Perímetro Irrigado Jaguaribe-Apodi é símbolo desse processo que desapropriou e expropriou muitos/as agricultores/as e estabeleceu na região a hegemonia do modelo de monocultivo de frutas para exportação em larga escala e com uso abusivo de agrotóxicos.

Por tudo isso, resistir segue sendo urgente e preciso! E como a luta pela vida contra um modelo de morte, como uma flor que nasce e resiste em um campo envenenado pelo uso intensivo de agrotóxicos, como a mística da beleza da luta que persiste mesmo no luto pela dor da perda de um ativista e companheiro, a Semana Zé Maria do Tomé segue, no caminhar de camponeses/as, movimentos populares, pesquisadores/as e organizações sociais, dizendo, em coro, que Zé Maria do Tomé vive!

* Advogada, mestranda em Estudos de Gênero pela Universidad Nacional de Colombia, integrante da RENAP-CE, integrante da Urucum – Assessoria em Direitos Humanos, Comunicação e Justiça, para a fanpage da RENAP-CE.

** As fotos, que retratam cenas da Caminhada, da mística no Acampamento Zé Maria do Tomé e do Seminário “Mulheres, Saúde e Território”, foram cedidas por Dillyane Ribeiro, para a fanpage da RENAP-CE.

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