De acordo com a Fundação Nacional dos Índios (Funai), atualmente existem cerca de 15 mil indígenas divididos entre as tribos Guarani, Xeta e Kaingang vivendo no Paraná. Eles estão concentrados em aproximadamente 17 terras indígenas demarcadas pelo governo federal, onde recebem assistência médica, odontológica e educação diferenciada bilíngue
Por Adriana Justi, do G1 PR
Preservar e respeitar a natureza, esse é o principal lema dos índios da Aldeia Araçaí, em Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba. Distante a cerca de 50 quilômetros de Curitiba, a aldeia, que é composta atualmente por 90 índios da tribo [sic] Guarani, mantém tradições e rituais vividos pelos ancestrais, como a prática de caça e pesca, e os rituais de danças e cura de doentes. A comunidade sobrevive basicamente de doações e do programa Bolsa Família, do governo federal.
Tímidos e religiosos, os índios dançam e cantam diariamente ao som de um violão e de outros instrumentos musicais feitos artesanalmente. O índio e um dos professores da aldeia, Gilmares Guilherme da Silva, explica que existem vários tipos de danças e que elas são realizadas para buscar fortalecimento e para agradecer pelo “pão de cada dia”.
Ele explica ainda que a união dos índios é importante para a realização dessas tradições e que toda a comunidade participa, inclusive as crianças.
Desde 2008 a tribo comercializa um CD com 10 canções compostas por vários integrantes da Aldeia Araçaí. Gilmares explica que a produção foi concluída em um dia e que o objetivo, além da venda, é mostrar um pouco da tradição indígena e da língua Guarani, tão apreciada pelos moradores da aldeia. As letras fazem menção ao Nhanderú, Deus indígena.
Na aldeia, a tribo [sic] está dividida em 18 famílias e é comandada pelo cacique Laércio Silva e pelo pajé Marcolino da Silva. “Aqui todos têm os mesmos direitos e recebem o mesmo tratamento”, conta o pajé.
A área da Aldeia Araçaí fica localizada em uma reserva de proteção ambiental, o que impede que os índios possam plantar alimentos. A renda familiar vem da comercialização de artesanatos – feitos de penas de aves, palhas e madeira – , que são oferecidos para os visitantes na própria aldeia.
“Nós pescamos e caçamos, mas é muito pouco. Somente para o consumo básico mesmo e para manter a tradição de índio. As doações nos ajudam muito para que o alimento nunca falte em nossas mesas”, completa o pajé.
O pajé conta que as casas de madeira compensada e de barro foram construídas pelas próprias famílias. O chão é batido e todos os indígenas têm acesso à água encanada e energia elétrica. Além disso, dentro das casas, todos têm televisão e fogão a gás. Os banheiros são comunitários e instalados do lado de fora das casas.
O engenheiro agrônomo indigenista, Edívio Batistelli, esclarece que a tribo Guarani é característica por manter as tradições indígenas e por ser mais religiosa, pelo menos em relação às demais tribos. “Eles são mais calmos e não deixam a cultura dos índios se perder em relação aos tempos modernos”, acrescenta. A maior concentração de índios da tribo [sic] Guarani no Paraná está concentrada em Espigão do Alto Iguaçu, Chopinzinho e Coronel Vivida. Há indícios de que a tribo [sic] chegou ao estado há mais de 2 mil anos.
O pajé Marcolino explica que todos os rituais das tribos [sic] são realizados dentro da principal casa da aldeia, chamada de “casa de reza”. A estrutura das paredes, que também é de barro, foi construída pelos próprios índios.
O local também é utilizado pela comunidade para a realização de casamentos e festas comemorativas. Dentre os rituais estão os processo de cura, todos feitos pelo pajé e as tradicionais danças.
Marcolino relata que a figura do pajé é tida como o sacerdote da tribo. Ele diz conhecer todos os rituais e receber as mensagens dos deuses, por isso, tem a missão de ser, também, o curandeiro. O processo é chamado pelos indígenas de ‘pajelança’, onde o pajé evoca os deuses da floresta e dos ancestrais para ajudar na cura.
“Eu uso ervas para tudo, para gripe, dor de ouvido, dores abdominais, graças a natureza, tem cura para tudo (…)”, relata Marcolino. Questionado sobre quais seriam as ervas utilizadas, ele explica que as fórmulas são secretas.