Tania Pacheco – Combate Racismo Ambiental
Queria escrever sobre Galeano desde cedo, quando uma amiga mandou do Uruguai a informação que acabara de receber, de que ele se fora. Apesar da tristeza, em lugar da seriedade de um texto, ficaram vindo à minha cabeça uma infinidade de coisas e imagens pontuais: textos, livros, fotos, entrevistas…
Desisti, mas, enquanto eu tentava esquecer a ele e ao blog e trabalhar a sério para o Mapa de Conflitos, ouvia sem querer sua voz recitando um poema em particular, até que me dei por vencida e fui postá-lo já no final da manhã e pela terceira vez: “Los Nadies”. Mas não terminou.
Num trecho de uma entrevista que felizmente a TV Brasil repetiu hoje, o trecho exato!, ele sorria no seu jeito carismático, enquanto nos elogiava pela invenção do verbo bebemorar. Momentos antes, interrompera o raciocínio para se corrigir: dissera “vivir”, em lugar de “viver”. Sempre me impressionou como ele procurava falar um português correto, parecendo menos ser porque seu interlocutor não entenderia, mas como parte do respeito que tinha para com uma outra cultura, um outro idioma, o ‘outro’, enfim.
Recordo ainda outra entrevista, não me lembro se por escrito ou em vídeo, na qual para minha alegre surpresa ele meio que rejeitava o livro que muitos parecem considerar sua única obra: “As veias abertas”. Havia sido escrito por um jovem que se metera a escrever sobre algo que não dominava, dizia ele em síntese. Que Galeano nos deixa mais pobres cultural, social e politicamente não há dúvida. Mas é acima de tudo sua humanidade que me faz lamentar.
Faz já algum tempo sob a minha assinatura nos e-mails há uma frase dele, direta, clara e incisiva: “A vida consiste em escolher entre indignos e indignados. Eu sempre estive com os indignados”.
Acho que Galeano gostaria se hoje todos os indignados do mundo abrissem uma garrafa de vinho (também servem cerveja, vodca, uísque, cachaça) e bebemorassem à sua vida! Antes disso, porém, fui buscar no Los hijos de los dias o texto referente a este 13 de abril, no qual a APIB comanda o início de mais uma semana de luta em Brasília. Coincidentemente, Galeano dedicou-o aos maias, ou melhor: aos povos originários desta América. É com ele que deixo você:
No supimos verte
En el año 2009, en el atrio del convento de Maní de Yucatán, cuarenta e dos frailes fraciscanos cumplieron una cerimonia de desagravio e la cultura indígena:
Pedimos perdón al pueblo maya, por no haber entendido su cosmovisión, su religión, por negar sus divindades; por no haber respectado su cultura, por haberle impuesto durante muchos siglos una religión que no entendían, por haber satanizado sus prácticas religiosas y por haber dicho y escrito que eran obra del Demonio y que sus ídolos eran el mismo Satanás materializado.
Cuatro siglos y medio antes, en ese mismo lugar, otro fraile franciscano, Diego de Landa, había quebado los libros mayas, que guardaban ocho siblos de memoria colectiva.
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E ainda, porque não resisto, “O direito ao delírio”, que acabo de descobrir postado há pouco na internet: